sexta-feira, 13 de junho de 2014

NÃO ENCAFIFA O FUTEBOL E MAIS QUE A FIFA



Os jogos sempre fizeram parte da cultura humana em todos os tempos, no Brasil, por exemplo, é inegável que o futebol absorve e traduz muito o espírito nacional. Realmente, o país inteiro assiste aos jogos, o reflexo dessa paixão é que somos um dos grandes do mundo nesta categoria de esporte sendo o maior vencedor de mundiais de todos os tempos. Dessa maneira, não é necessária muita argumentação para esclarecer quanto ao empenho e amor que o povo brasileiro deposita no futebol, sendo um excelente catalisador de esperança e conquistas, que por sua vez, não devem se limitar aos títulos e vitórias. Deve avançar para a civilidade e tolerância, afinal, somos todos brasileiros.  
É lastimável que a frente do esporte coletivo mais popular do mundo esteja uma instituição pouco transparente e democrática como a Federação Internacional de Futebol Associado – FIFA, que de maneira oportunista, controla o futebol mundial desde o início do século XX. Esse controle exercido pela instituição que se auto-proclama a entidade máxima do futebol mundial se dá através do Congresso da FIFA, órgão mais importante da entidade, que se reúne 01 vez ao ano extraordinariamente, desde 1998, antes desta data a reunião do congresso se dava 01 vez a cada dois anos. Existem também os comitês: Executivo, de Emergência e Permanentes que são responsáveis pela administração da entidade e Pela realização dos torneios. O distanciamento dos organismos FIFA da transparência necessária empurra a instituição à obscuridade e às possibilidades de corrupção, sem falar que o foco desta engrenagem demonstra não está associado a uma perspectiva de garantia plena dos Direitos Humanos através do esporte, é antes um aglutinador de patrocinadores que despejam merchandising sobre os amantes do futebol no mundo todo.  
Se não tivéssemos a FIFA, talvez não existisse nem ao menos o que criticar neste instante da história dado a grande dificuldade que nós temos em reunir esforços em torno de causas comuns. Ao se unir ao marketing capitalista, o futebol assumiu compromisso antes com os seus investidores que as causas humanitárias. Esse utilitarismo do qual se vale o sistema capitalista é o que transforma valores e sentimentos em coisas, à custa da dignidade de muitos semelhantes.   
A FIFA é filiada ao Comitê Olímpico Internacional – COI, e possui 209 países associados, mais associados que a própria Organização das Nações Unidas – ONU que possui 193 países membros. Sendo assim, a entidade atua também em países cujo regime de governo não é a democracia e que direitos humanos não são assegurados segundo a Declaração Universal, ao todo a FIFA reconhece 23 territórios não reconhecidos pela ONU, como a palestina, por exemplo. Quando analisamos tal flexibilidade na perspectiva da possibilidade de diálogos progressistas é algo positivo, no entanto, na maioria dos casos o interesse é meramente o do acúmulo irracional. A entidade organiza e realiza a Copa do Mundo de Futebol e o Prêmio para Melhor Jogador do Mundo, denominado FIFA Bola de Ouro, juntamente com a revista francesa France Football. A FIFA foi fundada em 21 de maio de 1904 e sua principal sede fica em Zurique na Suíça. A Federação é responsável pelo principal Ranking da melhores seleções de futebol do mundo, a seleção brasileira ocupa o quarto lugar neste ranking atualmente.
O monopólio que a FIFA exerce sobre o futebol mundial é evidente e injustificável, haja vista as possibilidades da participação da sociedade civil nos construtos coletivos que não pode ser negligenciada por nenhuma organização comprometida com a civilidade. Sendo assim os moldes pelos quais a FIFA monopoliza um patrimônio da humanidade sinaliza falhas nas organizações humanas de controle e fiscalização para o estabelecimento da ordem e paz entre os povos. Ao estabelecer padrão próprio a FIFA demonstra o grau de presunção com o qual se propõem a instalar a máquina nos países selecionados para sediar os jogos, é justamente nesse ponto que o encanto da mega-instituição é quebrado, pois em nome da viabilidade dos seus empreendimentos não respeitam culturas e povos. O futebol é sim um extraordinário fenômeno humano e que pode ser aperfeiçoado como canal de diálogo entre as nações, no entanto, isso não ocorrerá enquanto o espírito da fraternidade não ser compreendido. Ao estabelecer padrões para imporem a uma nação, a FIFA deveria resguarda-se em perfeição, o que não ocorre, haja vista às denúncias de corrupção que existem contra a entidade.
Ao candidatar-se como país sede do mundial de futebol de 2014 o Brasil o fez com a legitimidade do seu histórico futebolístico e por ser o maior campeão de todos os tempos, por ser a pátria de diversos melhores do mundo, ser a terra do “rei do futebol”, enfim, o futebol por si só nos escolheu para sediar esses jogos, além do mais no ato da escolha, a FIFA lançou mão de mecanismos racionais para determinar o país que sediaria a Copa do Mundo de 2014, a FIFA não é ingênua. O que não justifica, após a escolha do país, os dirigentes e organizadores da entidade lançar anátemas ao país que escolhera anteriormente, as críticas sem propósitos construtivos lançados pela “entidade máxima do futebol” não contribuiu para a realização satisfatória do evento na República Federativa do Brasil, ignorando o perfil da sociedade brasileira com 25 anos apenas de democracia plena, instiga às especulações através dos vários veículos de mídia mundo a fora. Além da ganância desenfreada aí está explicito a irresponsabilidade dessas entidades ao interferirem na soberania dos países, e como sabemos a entidade relaciona-se muito bem e, eficientemente, com países onde democracia ainda é uma utopia, ou seja, estão acostumados com o atropelamento das massas para a satisfação de meia dúzia.
A história recente da sociedade brasileira é marcada pela mobilização da sociedade civil, principalmente das comunidades acadêmicas, estudantis e de classes organizadas de trabalhadores, foi com o respaldo legislativo dessas classes politizadas, que sofreram conscientemente os impactos da ditadura que escrevemos a nossa constituição, promulgada em 1988, com fundamentos coerentes com a carta Universal dos Direitos Humanos, de modo que somos uma república democrática e valorizamos os seres humanos institucionalmente. Dessa maneira, Instalou-se o Estado democrático de direito no Brasil, representado pelos Três Poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário, desse modo, elegemos o presidente do país através de votação direta, sem discriminação de qualquer natureza, de modo que o primeiro presidente da República eleito após a Constituição de 1988, também foi o primeiro a sofrer cassação no Congresso Nacional. A participação consciente é o que propõem o Estado brasileiro ao seu cidadão, esta consciência que deveria ser proporcionada pela educação ainda não ocorre com a plenitude necessária.
Ao escolher o Brasil a FIFA deveria acolher também as peculiaridades e problemas de uma grande democracia global, conduzida por uma burocracia na maioria dos casos fisiológica cuja sociedade não participa conscientemente. O Brasil é um país defendido pelos seus fundamentos legais, que impedem as atrocidades dos que dominam o capital financeiro. Ao exigir do Brasil a eficiência e eficácia da Europa e dos países árabes, muitos deles conduzidos por monarquias e ditaduras, a FIFA superestima as suas expectativas em relação a esta que ainda será uma das primeiras nações do mundo graças aos fundamentos de liberdade de sua legislação.
As discussões à cerca dos investimentos na construção dos estádios que estão sendo utilizados para a realização dos jogos no país do futebol são as mais diversas, desde as que acreditam ser um erro do país “priorizar” esse tipo de investimento ao passo que setores da sociedade brasileira como saúde e educação carecem de maior atenção do governo. Outros afirmam serem infundadas as acusações de que o governo brasileiro priorizou a copa ao invés do próprio país, pois do período que iniciaram os investimentos de infra-estrutura até o ano de 2013, foram repassados para os setores de saúde e educação cerca de R$ 1,7 Trilhão de Reais, o que nos leva a crer que a situação de precariedade desses serviços públicos, se deve a elementos para além dos investimentos financeiros e que estão profundamente relacionados à falta do exercício cotidiano do controle social da parte dos cidadãos brasileiros. O Brasil ocorre nos municípios e essa percepção ainda não foi assimilada pela maioria das pessoas, que deixam suas cidades entregues a arranjos políticos que atendem demandas que não são as da sociedade, um exemplo, são as Leis Orçamentárias que não são formatadas com a devida transparência e participação da sociedade, resumindo-se em mero arcabouço burocrático.

Dessa maneira, o país do futebol será suficientemente capaz exercer a sua liderança perante o mundo, quando a sua população perceber e valorizar as suas instituições democráticas, principalmente as que fazem parte do cotidiano dos brasileiros em seus respectivos municípios, quando formos capazes de perceber o potencial das instituições do Estado democrático de direito no âmbito da municipalidade, haverá, desta maneira, a verdadeira emancipação do povo brasileiro. Quanto à copa, é boa para o país do futebol e traz os holofotes do mundo para o Brasil, onde por hora, é o palco do futebol mundial.