terça-feira, 24 de janeiro de 2017

VULNERABILIDADE SOCIAL COMO ARMA POLÍTICA

O propósito de alguns setores da elite financeira do Brasil é acentuar a desigualdade entre os brasileiros para distanciá-los dos direitos assegurados pela constituição dando a impressão de que o texto de 1988 é inexeqüível. 



A segregação social é característica marcante da sociedade brasileira em decorrência do seu processo de formação político-econômica marcado pela a injustiça e o domínio das elites que sempre souberam tirar proveito das instituições do país.

Essa característica sociocultural proveniente de uma época em que se admitia a escravidão de seres humanos insiste em guiar o Brasil mesmo em tempos de emancipação e República e, ao acreditarem na perpetuação do estigma casa-grande – senzala, setores da elite demonstram não reconhecerem a Constituição da República.

O distanciamento do conjunto da população acerca dos seus direitos torna fácil a submissão da classe trabalhadora e dos mais pobres aos desígnios dos donos do capital, isso num contexto em que a tributação de onde se obtém os recursos do Estado brasileiro incide principalmente sobre os que ganham salário mínimo.

A precariedade do sistema público de ensino no Brasil, principalmente, o ensino médio é a demonstração de que se pratica no país estratégia política que tem como base a ignorância da população e o distanciamento desta do que assegura o texto constitucional, numa demonstração de descaso quanto à civilidade.

Outra característica relevante no que diz respeito à vulnerabilidade social no Brasil é a concentração da população e dos recursos econômicos na região costeira do país, o que promove uma distribuição desigual dos recursos no Território Nacional.

As cidades que estão no interior do país, fora das regiões economicamente desenvolvidas, principalmente, as situadas nas regiões Norte e Nordeste, sofrem ainda mais as conseqüências da falta de conhecimento e da concentração econômica nas mãos de poucos, nesses contextos a vulnerabilidade social é a única arma política.

As prefeituras municipais que deveriam cumprir o papel de fomento ao desenvolvimento humano dos munícipes, em determinadas realidades, funcionam como repositório de parasitas que sugam tranquilamente os recursos da população sem se preocuparem em entregar resultados.

Nesses contextos ignoram-se os instrumentos de planejamento e o orçamento público orbita a realidade prática, a ausência do controle social efetivo possibilita as mais ousadas e ilegais manobras contábeis a favor dos que desviam o recurso público.

O pensamento individualista lidera sempre os empreendimentos da corrupção, os que estão sedentos pelos recursos públicos advindos dos impostos, ironicamente, esquecem que vivem em sociedade e que todos possuem direitos iguais.

Lideranças políticas que têm a miséria e a vulnerabilidade social da população como trunfos a seu favor no sentido de exercer poder e dominação, quebrando as pernas do povo para dar muletas, essas pessoas não estão interessadas em cumprir os objetivos estabelecidos no texto constitucional.

Nas regiões afastadas dos centros econômicos a utilização da vulnerabilidade social como arma política é ainda mais intensa, nessas realidades, existe muita desinformação e a necessidade é tanta que o cidadão mendiga seu próprio direito, o mau político, por sua vez, surge como o super-herói, atravessando direitos e os entregando como se esmola fossem, ficando o cidadão “beneficiado” com uma dívida de gratidão, para ser quitada no próximo pleito eleitoral.

Sem falar no empreguismo que é utilizado como estratégia para a perpetuação de determinados grupos políticos no poder, o que em decorrência do inchaço da folha e do gasto com pessoal inviabiliza o investimento em outras áreas do município, não desenvolvendo a infraestrutura necessária ao desenvolvimento da cidade.

Também existe o tráfico de influência que implica diretamente na ineficiência dos serviços públicos, pois instituições que deveriam atender de maneira transparente a propósitos coletivos e de interesse público, são dominadas por famílias inteiras, que na maioria das vezes não estão comprometidos com política pública.

Essa realidade reflete o nível em que se encontra a nossa democracia frágil e desmoralizada, onde interesses corporativos e de seguimentos abastados da sociedade sobrepõem sem dificuldades o texto da Carta Magna ao passo que os principais prejudicados sequer têm consciência do que acontece.

Para conter a sanha da elite é necessário demonstrar que no Brasil todos possuem direitos, rompendo o determinismo ao qual querem submeter à classe trabalhadora e os mais pobres do país. É necessário fazer a defesa do interesse público neste momento de crise institucional iniciada com o desrespeito à soberania popular com a retirada da presidente sem crime de responsabilidade.

Enquanto não formos capazes de assegurar o que está disposto na Constituição do País não seremos uma grande nação, muito menos uma superpotência econômica, ao contrário, apesar do nosso gigantismo, continuaremos anões em estatura geopolítica. Um país que prejudica o seu povo para satisfazer quem quer que seja, definitivamente, não merece ser reconhecido como República, a não ser que seja a república das bananas, império da mediocridade.

Querem interromper investimentos em saúde e educação sendo que o país é deficitário de recursos para essas áreas. Estão sacrificando o interesse público para assegurar lucros exorbitantes aos credores da dívida e isso tudo está acontecendo com o consentimento inconsciente dos brasileiros ludibriados pela grande mídia.

O sistema capitalista é um forte aliado dos que fazem da vulnerabilidade social uma arma política e instrumento de alienação em países em desenvolvimento, pois nascido para promover o intercâmbio e satisfazer as necessidades humanas, atualmente, o capitalismo passa pela sua pior crise existencial, preso ao paradoxo consumismo x desigualdade e sem boas perspectivas quanto ao futuro.

De modo que, quanto mais distanciarem os brasileiros dos seus direitos, mais dificil irá ficar no que diz respeito à cidadania e progresso social no Território Nacional, caso persista o descaso ao texto constitucional de 1988, melhor mesmo será convocar nova constituinte, pois não faz sentido continuarmos sendo guiados pelo fisiologismo.