segunda-feira, 15 de maio de 2017

QUE POLÍTICA NÓS QUEREMOS?

Enquanto a campanha política carnavalesca substituir a política propositiva a cada quatro anos e a população brasileira continuar votando sem refletir, o conjunto da sociedade permanecerá à margem do sistema político e alheio aos próprios direitos.


O desconhecimento não tira de nós a responsabilidade pela qualidade da política, pois, geralmente, não fazemos a nossa parte como cidadão na relação com Estado e lançamos mão do generalismo na tentativa de preencher o imenso vazio deixado pela nossa falta de responsabilidade com as instituições públicas do Brasil.

Alguns se mantêm separados da vida do Estado através da linha imaginária da irresponsabilidade esperando por soluções prontas, sem participar conscientemente dos diversos espaços garantidos pela constituição. Mesmo os cidadãos que deveriam ter consciência acerca da democracia como os funcionários públicos, por exemplo, na maioria dos casos se entregam ao corporativismo e abdicam de fazer a coisa certa. 

Para vislumbrar a política que queremos, é necessário reconhecer o cotidiano do sistema político atual e a sociedade deve assumir a sua parcela de culpa nisso. Uma política de um Estado democrático não deve se limitar a esta ou aquela corrente ideológica é, na verdade, o caminho escolhido para que a sociedade exerça sua liberdade.

A dificuldade do nosso sistema não está relacionada à ausência de legislação, até que nossas leis são modernas e coerentes com o que se pratica na maioria dos países civilizados, o grande problema é que aqui, entre outras coisas, a luta de classes extrapolou o limite da ética e grupos economicamente mais fortes estão retirando direito da população.

Toda vez que demonizamos a política e a associamos com a ilicitude generalizada, sem fazer a distinção entre o mau e o bom político, sem diferenciar o ser humano desonesto que utiliza as instituições do Estado para assegurar os seus próprios interesses daqueles que a biografia confirma o seu compromisso com o bem comum, cometemos um grande equivoco.

É necessário entender a função determinante que exerce a política numa sociedade democrática e nos reconhecermos como sujeitos políticos para que a partir daí sejam definidas diretrizes pelas quais todos devem se orientar no exercício da vida em comunidade.

Não adianta transferir a culpa aos representantes políticos enquanto compactuarmos com a maneira errada como a política é feita no Brasil, a começar pelos municípios onde as pessoas vivem, é necessário compreender que a obrigação de participar não se limita ao dia da eleição e que o voto repercute diretamente na vida das pessoas para o bem e para o mal.

Para construir a política que queremos numa realidade em que a justiça e o direito prevaleçam é preciso substituir o individualismo pela solidariedade, do contrário, as pessoas continuarão entendendo que na política pode tudo e que coisa pública é de ninguém ou de quem chegar primeiro. Além disso, é necessário que o exercício da cidadania substitua a hipocrisia.  

Muitos se posicionam como defensores da moralidade e intolerantes às práticas ilícitas dos políticos corruptos, principalmente, os apresentados pela grande mídia ao passo que cometem, diariamente, desvios de recursos e crimes contra o interesse público.

Alguns falam em refundar a república sendo que nem mesmo a terça parte da população tenha assimilado, ainda, o texto constitucional vigente. Aspecto que pode ser retratado pela tamanha apatia da sociedade brasileira do controle social que deve ser feito pelo cidadão e contribuinte, de modo que, reclamam da qualidade do serviço público, mas não se interessam em saber como os recursos estão sendo aplicados nas diversas áreas.

Nas cidades do interior do Brasil que ainda não foram contempladas pelo desenvolvimento econômico e social, em muitos casos, os recursos públicos representam a única fonte de receita do Território Municipal e os empregos das prefeituras são disputados a tapa por uma multidão de desempregados o que garante forte polaridade nas disputas políticas locais.

Por não conhecerem ou não acreditarem no potencial do Estado de direito nas cidades algumas pessoas se lançam na disputa política apenas para garantirem alguma “vantagem” utilizando o método que for necessário para assegurá-la, recorrendo à compra de votos e aos mais diversos tipos de ameaças, se necessário, sempre tendo a vulnerabilidade social da população como trunfo.

Esse modus operandi da política nos municípios pobres do Brasil ilustra bem o desafio que a sociedade tem para construir um sistema político que corresponda à Constituição de 1988, onde todos os brasileiros são iguais em direito e obrigação.

Desse modo, além de trabalhar incessantemente para reduzir a imensa desigualdade existente no Brasil, que muitas vezes submete, irremediavelmente, o cidadão ao jugo do dominador para a satisfação de necessidades primárias, é necessário nos conscientizar de que existem interesses comuns que precisam ser alcançados.

Para construir a política que queremos precisamos ser mais solidários e nos distanciar do complexo de vira-latas que dificulta o nosso posicionamento como cidadão de direito no Brasil, é necessário reconhecer o papel do Estado e construir, juntos, um projeto de sociedade que não exclua e gere oportunidade para todos, após essa construção é dever da população assegurar que compromissos assumidos sejam cumpridos, afinal, sempre teremos a política que merecermos.        

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