terça-feira, 6 de março de 2018

RIO PARDO: Uso irracional do recurso e conflito de interesse


De modo geral, a discussão oficial sobre os recursos hídricos na região da bacia hidrográfica do Rio Pardo continua acontecendo sem reconhecer o rio como sistema vivo e complexo.
Mesmo sem existir estudos completos sobre a bacia situada na Unidade de Gestão de Recursos Hídricos de Bacias de rios de domínio da União – UGRHs, o interesse corporativo tem prevalecido nas discussões relacionadas ao uso da água.

A atuação dos agentes políticos da região que deveria representar o interesse da coletividade nas diversas esferas a partir do município reflete o desconhecimento desses atores quanto à urgência do tema dos recursos hídricos na região do semiárido brasileiro.

O poder público municipal da maioria das cidades banhadas pelo Rio Pardo, não assume a função constitucional que lhe cabe, transfere responsabilidade e não implanta a regulamentação pertinente ao município. Além disso, a prefeitura municipal não faz valer o Código Florestal no território e não reconhece a mata ciliar do rio como Área de Preservação Permanente – APP o que favorece a intensificação do assoreamento. 
 
Nos encontros de consórcios municipais, audiências públicas com vereadores e outras autoridades as discussões não avançam, justamente, pela estreita percepção dos envolvidos sobre a complexidade de um sistema hídrico e o foco nas soluções paliativas e de curto prazo.     

Diante do posicionamento cambaleante dos municípios que constituem a bacia hidrográfica do Rio Pardo o interesse do capital financeiro tem prevalecido e, mesmo sem a existência do instrumento legal próprio para o uso racional dos recursos hídricos, o clube de irrigantes negocia e assegura os seus interesses diretamente com a Agência Nacional de Águas – ANA.

Movimentos e entidades da sociedade civil, universidades, sindicatos, partidos políticos e instituições religiosas têm debatido sobre o futuro do Rio Pardo e da necessidade de reconhecer a água como direito humano indispensável. A mobilização vem acontecendo mais fortemente a partir de 2015, quando várias organizações sociais dos dois Estados se encontraram em Canavieiras – BA para repercutirem a morte anunciada do Rio Pardo.

Desde o primeiro encontro até hoje o movimento social de articulação em defesa do Rio Pardo vem trabalhando para fazer o empate nesse conflito de interesses em nome da sociedade civil organizada e da classe trabalhadora da região da bacia hidrográfica.

A Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH foi instituída no Brasil pela Lei 9.433 de 08 de Janeiro de 1997 e regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição. A legislação nacional atribui aos estados e municípios a responsabilidade de administrar e preservar os recursos hídricos, exigindo dos entes federados forte capacidade de articulação política para a construção dos instrumentos de gestão da Bacia Hidrográfica.

O que não falta no Brasil é arcabouço legal para que sejam construídas as condições necessárias à preservação dos recursos hídricos no Território Nacional, no entanto, a vontade política, necessária para que essa estrutura seja viabilizada, ainda reflete o estágio da democracia brasileira que é de baixa intensidade.

O Comitê de Bacia Hidrográfica – CBH é um dos instrumentos exigidos pela legislação brasileira e deve ser composto por representantes de pelo menos 1/3 dos municípios por onde o rio passa. Os comitês de bacia, normalmente, são constituídos de 40% de usuários da água, 40% de representantes da sociedade civil e 20% de representantes de órgãos públicos. Ao comitê cabe a aprovação do Plano de Bacia Hidrográfica, que é essencial na gestão do recurso natural.

Embora o clima semiárido por si só seja uma ameaça aos recursos hídricos da região, no caso do Rio Pardo, a utilização irracional dos recursos hídricos da bacia é o que mais prejudica: desperdício de água, captações ilegais e contaminação por afluentes tóxicos, principalmente, em decorrência de esgoto sem tratar, além do desmatamento das matas ciliares que dificultam a sobrevivência do rio.    

Para salvar o Rio Pardo é necessário reconhecer a água como direito e, preservar a bacia hidrográfica como sistema vivo. A discussão não deve se limitar a elementos pontuais como a falta d’água nas torneiras. É preciso que exista antes a compreensão das ações que devem ser desenvolvidas nos municípios que compõem a bacia.

Em todo o planeta existe grande preocupação quanto ao futuro da água e não se tem a garantia do recurso natural para as gerações futuras. Atualmente, o Brasil é palco principal da discussão mundial sobre os recursos hídricos e, entre os dias 17 e 22 de Março, povos do mundo inteiro se reunirão em Brasília-DF no Fórum Mundial Alternativo da Água – FAMA.

Movimentos sociais, pesquisadores e organizações da sociedade civil estarão reunidos na capital brasileira para reafirmar a defesa da água como direito, em contraponto ao evento promovido pelas grandes corporações que estão dispostas a se apropriarem e privatizarem os recursos hídricos do Brasil. 

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