sexta-feira, 6 de janeiro de 2012


A juventude de comunidades consideradas grotões sofre uma crise de identidade, de origem, de referência territorial, carregando consigo aspectos culturais advindos das mais diversas periferias do país. Essa ausência de identificação, de referência é altamente prejudicial na formação do indivíduo e conseqüentemente na qualidade de vida da comunidade. A expropriação quando não analisada de uma maneira aprofundada, talvez distraia a nossa atenção para somente os aspectos referentes ao processo migratório como fenômeno em si, mas quando se analisa tal processo de maneira ampla podemos ver o quanto é danoso ao ser humano.
A globalização por si só, traz consigo modelos de comportamentos generalistas impostos pelo consumismo. Dessa maneira a substituição dos valores que constituem o cerne daquelas comunidades já tem no sistema capitalista um grande opositor da preservação de valores culturais essências, e com o processo de expropriação isso se torna mais complicado, pois são pessoas com vontades impostas pela mídia, falta de identidade por conta da não valorização do local e com baixo nível educacional. Dessa maneira, esses jovens têm a percepção de que o modelo ideal a ser seguido é aquele apresentado pela televisão, e não se sente acolhido pelo seu território. Esse fenômeno que por hora passa despercebido aos olhos do Congresso Nacional e da Presidência da República remete o país a uma situação social conturbada e de difícil controle, principalmente com o aumento das periferias e conseqüentemente dos desafios sociais que essas trazem.
Ainda hoje a grande dificuldade de tais comunidades em enfrentar o fenômeno de expropriação ambiental trazendo alternativas à permanência das pessoas em seus territórios se deve ao baixo nível de organização social das mesmas. O fator educacional ainda é o maior desafio em se tratando de transformações sociais, políticas e econômicas da Região Nordeste. As políticas afirmativas existentes não conseguirão por si só proporcionar aos brasileiros nordestinos o sentimento de pertencimento a nação. A dívida é imensa e essa transformação só ocorrerá à medida que a visão medíocre de políticos e instituições à cerca das problemáticas nordestinas forem substituídas por uma percepção daquele povo como componentes essenciais de uma nação chamada Brasil. A população nordestina é tratada em sua maioria como cidadãos de segunda categoria pelos que dominam a economia e a política. Outro fator preocupante é a pobreza de percepção por parte de algumas lideranças políticas dessa região, que insistem laçar seus olhares às populações do interior do nordeste brasileiro com a arrogância de um coronel. Esse comportamento senhorial por parte daqueles que deveriam ser promotores de direitos e assegurar os mecanismos de ascensão social se torna danoso. Para que os efeitos da expropriação ambiental sejam amenizados é necessário uma profunda transformação nas instituições públicas e políticas da nossa Região. É necessário a garantia da dignidade desses brasileiros, pois somente dessa maneira o Brasil pode se considerar um país com possibilidades de desenvolvimento. Dignidade vai além do suprimento mínimo de alimento para a preservação de uma vida vegetativa. É necessário mecanismos, para que aqueles “alimentados” participem da dinâmica da sociedade inserindo-se nesta de maneira natural e digna sem precisar carregar o estigma do subsídio social.
Aliadas a esse universo de problemas no qual os brasileiros nordestinos estão submetidos, vítimas dos efeitos da expropriação, está as dificuldades encontradas no campo da educação, saúde e trabalho sendo a educação a mais problemática por ser pressuposto essencial para o indivíduo, inclusive, na compreensão da realidade a qual está submetido. Quando o Estado não oferece uma educação realista, honesta e eficaz sinaliza o desinteresse em fazer transformações sociais. Escolas de cidades como Cândido Sales, cidade da região sudoeste da Bahia, com índices educacionais, sociais e ambientais preocupantes, funcionam sem obedecer ao menos à Legislação Básica para o funcionamento de uma unidade de ensino. A crise na educação daquele município é certamente estrutural que vai desde a inexistência de profissionais qualificados para o exercício devido do magistério, sendo que a maioria dos docentes que ali atuam no segundo grau estão sob o sistema de precarização do profissional da educação que é o fato de o Estado necessitar de profissionais via contrato para suprirem à vacância em detrimento da ausência de concursos públicos, sendo na maioria das vezes esses profissionais obrigados a assumirem disciplinas as quais os mesmos não estão academicamente preparados para lecioná-la. Tal fator que se tornou comum mais precisamente no Estado da Bahia é certamente um reflexo da inexistência de políticas de enfrentamento, seja por incompetência ou pelo que é pior: o descaso com essas populações por parte das autoridades políticas do Estado.
O que se percebe é que não há um planejamento por parte do Estado da Bahia para o enfrentamento da falta de educação do seu povo. Não se sabe quais as pretensões que motivam essas autoridades a ignorarem tão importante elemento que é a educação em um contexto social. O descaso em relação à educação das cidades do interior é percebido através da própria estrutura criada por governos passados e mantidas pelo governo atual para a gestão e implementação de projetos educacionais que carregam consigo a expressão máxima da burocracia e a insensibilidade sobre as questões que envolvem a educação dessas pequenas cidades. Estruturas como as DIREC’S que não apresentam de maneira satisfatória elementos que justificam as suas existências, parecem estáticas não deixando transparecer através das suas práticas de gestão e programas um interesse verdadeiro com a formação de uma importante parcela do povo brasileiro,
 Em se tratando dos aspectos sugeridos pela conjuntura nacional sabe-se que a educação brasileira hoje tem um papel essencial no alcance de patamares sociais melhores para o cidadão. As escolas públicas instaladas nessas regiões devem satisfação à população no sentido da eficiência dos serviços prestados e na transparência da gestão dessas unidades. O desconhecimento da sociedade à cerca do seu papel no sentido da construção de uma realidade social justa, impede que esta se sinta responsável pelos próprios desígnios não participando assim de maneira ativa da construção de um projeto de sociedade. Reconhecer tal aspecto não deve significar conformar-se com esta realidade, é necessário que os governos dêem condições para que a sociedade compreenda conceitos de território e cidadania e, a partir daí possa participar de maneira mais ativa e protagonista no sentido da construção de novos paradigmas que possibilitem a sua permanência no lugar de origem. É necessário que autoridades políticas e de governo reconheçam o baixo nível de organização social da Região, mas que dêem respostas eficientes no sentido do melhoramento de tal nível. O que não pode ocorrer é ignorar os aspectos que compõem determinada sociedade através de mecanismos burocráticos e meramente numéricos, o fato de os governantes voltarem seus olhares para a população nordestina sob o prisma da subserviência e do incomodo social, no intuído de “resolver problemas” é o reflexo do desmazelo dos políticos nacionais que representam regiões como a Norte e Nordeste, tais políticos, praticando métodos alienantes, distanciando as populações da compreensão plena dos seus direitos e da sua identificação como sujeito político e social, condena estas Regiões a permanecerem no atraso.
Os fatores ambientais ainda são os principais causadores do processo de expropriação nessas regiões que possuem suas economias associadas diretamente à agricultura de subsistência ou agricultura familiar, que por sua vez não tem sido percebida como alternativa para o desenvolvimento sócio-econômico dessas localidades. A existência de atravessadores é, certamente um fator que contribui para o não reconhecimento do potencial das pequenas propriedades rurais como unidades econômicas de produção, os atravessadores por sua vez, exercem forte influência no contexto social dessas comunidades, sendo esses muitas vezes, os financiadores da política local. Dessa maneira, embora as instituições de governo reconheçam a importância da agricultura familiar para o desenvolvimento dessas localidades, e disponibilizem a estas condições para o fomento das suas atividades produtivas, tais condições se vêem anuladas, pois a relação de subserviência dos pequenos a esses atravessadores dificulta a sua conscientização no sentindo do reconhecimento de potencial que a agricultura familiar exerce, aliada a essa situação vem o fato de tal modalidade da agricultura não se deslanchar devido ao baixo nível de organização social. Em detrimento dos fatores apresentados, instrumentos como as associações de pequenos produtores e/ ou moradores que são imprescindíveis na formatação de ações a serem desenvolvidas nesse sentido, se vêm enfraquecidas dificultando dessa maneira, a consolidação de projetos que visam à melhoria da qualidade de vida daquelas populações e a absorção de condições por parte do homem do campo para a sua permanência no meio rural, sendo este fatalmente empurrado a buscar condições de sobrevivência em outros ambientes. Terras agricultáveis são utilizadas de maneira inadequada por pessoas que não têm uma visão de exploração de longo prazo, condenando a terra à subutilização, enfraquecimento do solo e descaracterização da fauna e flora local, um exemplo disso, é a intensificação da plantação do eucalipto em pequenos municípios como o de Cândido Sales na Bahia.
Reconhecido como um dos que mais desmatam no Estado, Cândido Sales, vem sofrendo a invasão dessa cultura oriunda da Oceania, sendo que de uma maneira irracional, atravessadores tem convencido as autoridades de que a cultura do eucalipto é sim uma proposta viável para aquele município, contrariando a legislação ambiental, empurrando de maneira sistematizada a população rural para fora do seu habitat, colocando estes em exposição a uma alta vulnerabilidade social.
É necessário reconhecer que o desenvolvimento dessas práticas equivocadas de manejo da terra, tem tido o apoio dos governantes e lideranças locais, que pela pouca percepção à cerca dessa problemática subsidiam tais atravessadores de maneira a eliminar os entraves que por sua vez possam impedir a implantação de tais sistemas predatórios. Esses subsídios vão desde a concessão de benefícios legais por parte do município à negligência por parte das autoridades locais no sentido da fiscalização e controle dessas práticas danosas de exploração da terra. Esses atravessadores são donos de grandes armazéns e outros empreendimentos no município, ocorrendo uma grande concentração de renda e acentuando as desigualdades sociais, por conseguinte. A ausência de políticas públicas sérias por parte dos governantes para o enfrentamento dessa realidade torna a migração a alternativa mais viável para essas populações que são obrigadas a partirem em busca de sobrevivência através de subempregos em outras Regiões do país.
Sendo assim, mais uma vez a educação desponta-se como a alternativa mais viável na construção de uma realidade diferente que privilegie a natureza e dê aos indivíduos, elementos para que estes valorizem e preservem o território do qual fazem parte. A ausência da consciência social e ambiental é certamente, o maior causador da expropriação ambiental. Tal realidade revela-se à medida que percebemos o distanciamento da comunidade das questões acima citadas, ficando essa ao mercê da subserviência aos políticos e do trabalho precário oferecido à população pelos tais atravessadores, instaurando dessa maneira um círculo vicioso altamente degradante. 

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