sexta-feira, 19 de junho de 2015

CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE, ALGUNS ASPECTOS

A legislação do SUS reconhece a conferência municipal como importante instrumento para a consolidação da política nacional de saúde, é neste espaço que os diversos atores locais interagem e trazem demandas diversas.

O município de Cândido Sales-BA realizou entre os dias 16 e 17 de Junho de 2015 a sua 6ª Conferência Municipal de Saúde, o evento iniciou na noite de terça-feira e concluiu os trabalhos na noite do dia seguinte.

O tema da Conferência Municipal foi “Saúde Pública de Qualidade para Cuidar bem das pessoas: Direito do Povo Brasileiro” e foi desenvolvido através de oito eixos temáticos, que abordaram desde o direito à saúde às reformas democráticas e populares do Estado.

Foram ministradas palestras por profissionais da saúde vinculados à regional de Vitória da Conquista, que abordaram sobre a legislação de saúde pública no Brasil, seu histórico, e quais os instrumentos legais que formam a política.

Os palestrantes convidados deixaram claro, a necessidade de a sociedade brasileira resgatar o SUS das mãos da iniciativa privada e dos interesses pessoais e politiqueiros.

Segundo os profissionais vinculados à Secretaria Estadual de Saúde, a relação público/privado que deve haver no SUS não pode extrapolar os limites da legalidade, os profissionais ressaltaram a importância da participação da sociedade na gestão do sistema e o papel determinante do Conselho Municipal de Saúde.

Participação da Sociedade

A conferência de saúde do município de Cândido Sales-BA, não se diferenciou das conferências realizadas em outras áreas do município, onde a maioria dos participantes é formada pelos profissionais do setor, que se revezam ao longo da realização do Evento.

No entanto, a 6ª Conferência Municipal de Saúde demonstrou-se mais participativa, com a interação de conselheiros, funcionários, gestores, parlamentares, ex-parlamentares e usuários. O trabalho conduzido pela Secretária Municipal de Saúde na realização da conferência possibilitou um debate mais rico que o realizado em 2011.

Dos diversos eixos surgiram idéias e críticas construtivas, que denunciavam a saúde que temos e projetava a saúde que queremos. Os participantes da conferência que tiveram interesse em levar a discussão até o fim contribuíram apresentando propostas relevantes para a saúde local.

Quanto à participação mais geral, se o governo não reconhecer o perfil da população local e desenvolver instrumentos que possibilitem a interação desses sujeitos independente das condições socioeconômicas e educacional que os cercam, os instrumentos legais nesse sentido estarão mais a serviço do fisiologismo burocrático que da sociedade brasileira.

Intersetorialidade na Conferência Municipal

Apontada como saída para o enfrentamento da desigualdade no Brasil a interação entre as diversas políticas públicas e setores do governo local é determinante para o estabelecimento de uma estratégia de saúde eficiente e eficaz.

Setores como a educação, por exemplo, não podem ficar de fora do debate à cerca da saúde pública, são necessárias articulações entre políticas nesse sentido. Outra importante área que deve está alinhada à saúde é a assistência social, através do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, que em municípios com perfil onde mais de 60% da população estão em situação de miséria é determinante para o sucesso da política de saúde local.

No caso da 6º Conferência Municipal de Saúde de Cândido Sales-BA, a intersetorialidade, desfez-se juntamente com a mesa após a abertura do evento, representantes da educação, da assistência social, do executivo e legislativo municipal, estiveram presentes, e alguns até permaneceram, porém não participavam como representantes dos respectivos setores.

Nesse sentido o evento público não foi diferente do realizado em maio pela secretaria municipal de educação para discutir o Plano Municipal para o setor, onde, embora tenha participado da abertura, a secretária de saúde não nomeou alguém para representar o setor durante os debates daquele dia.

A intersetorialidade é fundamental para a concretização dos nossos fundamentos legais, sendo assim é necessário a criação de fóruns permanentes de discussão que envolva todas as secretarias do município em torno de objetivos claros para serem perseguidos conjuntamente.

Conselheiros Municipais de Saúde

Passados 04 anos da 5ª Conferência Municipal as queixas dos conselheiros são as mesmas, e nos remetia a voltar no tempo, naquela tarde chuvosa de maio de 2015.

Os conselheiros presentes cobraram mais transparência na gestão e uma melhor infraestrutura para a prestação do serviço do organismo de controle social, conselheiros relataram que não recebem as informações estruturadas e que são convocados somente quando é para aprovar alguma medida da administração local.

As informações necessárias para se executar a fiscalização dos recursos da saúde municipal não estão organizadas de maneira racional e legível, de modo que uma pessoa leiga possa ao ter acesso às informações, saber se o recurso está sendo gasto adequadamente ou não.

Eles também denunciaram que o governo municipal não dispõe de programas de formação para conselheiros, onde estes estariam se aperfeiçoando para o exercício da função pública. Desse modo, acabam prejudicando a comunidade por não serem capazes de decifrar as informações que apontam irregularidades a tempo.

Os conselheiros relataram a pressão que sofrem quando não aceitam as imposições do governo local, um deles, inclusive, afirmou que só estava dando opiniões realistas naquela assembléia por não fazer parte do governo, e por ser representante do setor privado, no entanto, alguns de seus companheiros tinham medo e opinar.

A participação dos conselheiros municipais de saúde durante a 6ª Conferência deixou claro que não existe um controle social efetivo sobre os recursos do SUS – Municipal e que a instituição está funcionando mais para a burocracia e menos para a melhoria da eficiência dos gastos públicos no setor.

Um diferencial desta conferência no que se refere à participação dos conselheiros é que, dessa vez, participaram um maior número deles e todos confirmaram as informações sobre a incipiência do Controle Social dos recursos da saúde no município de Cândido Sales-BA.

Participação de Vereadores

No momento da abertura dos trabalhos da conferência estavam presentes 03 vereadores do município, o presidente da Câmara Paulo Brito, Robson Freitas e a vereadora Claudiane Morais.

Durante a fala das autoridades à mesa o vereador Robson Freitas anunciou o que, segundo ele, seria um “presente” para a saúde do município, uma emenda parlamentar de um deputado do seu partido. O vereador não esclareceu como seria investido esse recurso.

O mesmo vereador não permaneceu após a mesa desfazer-se, de modo que não foi possível cobrar dele esclarecimentos sobre a quantidade de cirurgias pagas pelo SUS que o mesmo vem viabilizando através do seu mandato.

O vereador precisa esclarecer por que os serviços públicos de saúde não estão chegando diretamente ao contribuinte, sem a necessidade de atravessadores. Os senhores vereadores precisam esclarecer a coletividade por que as pessoas precisam antes serem humilhadas para depois ter direitos garantidos.

A participação do presidente da Câmara Municipal se limitou ao momento da abertura e a vereadora Claudiane participou das discussões, inclusive, foi escolhida para representar os usuários do SUS local em Salvador-BA no dia 24 de Setembro na Conferência Estadual.

Participação dos usuários do SUS

Além da participação dos conselheiros que representam a sociedade civil, também contribuiu com os debates ex-vereadores e ex-conselheiros de saúde. O ex-vereador Manoel Francisco (Litinho) expôs o seu ponto de vista e cobrou mais transparência na gestão dos recursos da saúde no município.

Também participaram alguns dos delegados eleitos durante as pré-conferências nos bairros, distritos e povoados do município, com destaque para o senhor Ranilson morador do bairro da Usina, que apresentou a importância dos hábitos saudáveis e da boa alimentação na manutenção da qualidade de vida.

O movimento cidade nossa também deu a sua contribuição através do seu representante o professor Welinton Rodrigues, que cobrou o cumprimento integral da legislação do SUS no município e exigiu que fosse realizado o diagnóstico e o Plano Municipal de Saúde.

Para o professor não é possível administrar o que não se enxerga e que a realização desse amplo levantamento sobre a saúde do município, daria condições aos gestores e trabalhadores do SUS local de terem uma maior eficiência em seus esforços e investimentos.

Os usuários do SUS falaram sobre a necessidade de mais transparência na gestão dos recursos da saúde do município de Cândido Sales-BA e da necessidade do município regulamentar a Lei de Acesso a informação o quanto antes.

Somente quando o município possuir o seu próprio portal da transparência, com o amplo detalhamento dos gastos públicos realizados pela administração nos diversos setores, será possível a sociedade acompanhar e os conselheiros desenvolverem com mais eficácia a função constitucional a que lhes compete.

Nesse portal, deverá possuir uma seção exclusiva para a saúde, onde seja possível o cidadão acompanhar em tempo real a dinâmica das contas do setor, e que possibilite o acesso direto aos gastos realizados individualmente por cada Unidade de Saúde da Família.

Para os usuários do SUS, somente com o desenvolvimento de uma infraestrutura informacional o município despertaria um maior interesse da comunidade em acompanhar o dia-a-dia da saúde pública local.

Encerramento da Conferência

Depois das palestras, e de ter discutido cada eixo em grupos específicos que em seguida apresentaram as suas propostas na conferência municipal, foram realizadas as eleições para os representantes do município na edição Estadual da Conferência.

Também foram eleitos novos membros para o conselho municipal de saúde, após todos os encaminhamentos a secretária municipal de saúde declarou encerrados os trabalhos 6ª Conferência Municipal de Saúde de Cândido Sales.  

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