domingo, 14 de janeiro de 2018

BOLETIM SOBRE O RIO PARDO: O rio continua morrendo

A crise hídrica pela qual passa a nossa região é bastante séria e não existem soluções imediatas para o problema.
Nos 565 km do leito do Rio Pardo da nascente à foz são várias as agressões que a bacia hidrográfica sofre diariamente: Desmatamento da mata ciliar, assoreamento, contensões irregulares e ilegais, contaminação por agrotóxico e esgoto sem tratar, uso irracional dos recursos hídricos pela população e por irrigantes sem respeitar a legislação nacional mais os longos períodos de seca e a altas temperaturas ao longo do ano são os elementos que estão matando rio.

A única maneira de interromper esse processo degradante seria respeitando a Lei criando o comitê gestor de bacia com ampla participação da sociedade civil, reconhecendo o rio, indispensável para sobrevivência humana, como sistema integral e complexo da nascente à foz, constituído por nascentes, afluentes, lençol freático e vales. Esse comitê é de responsabilidade da sociedade civil e do poder público dos dois Estados por onde o rio passa. Cada território municipal deve fazer a sua parte.

O desafio na construção dessa rede de proteção que o Rio Pardo necessita, surge a partir da incapacidade política e administrativa dos municípios para enfrentarem o conflito de interesses trazido em tempos de escassez dos recursos hídricos em todo o planeta, soma-se a isso o desconhecimento da sociedade acerca de sistemas complexos como uma bacia hidrográfica devido à pífia educação pública que é ofertada nesses lugares.

As águas do Rio Pardo estão sendo utilizadas de maneira equivocada e injusta, estão matando o recurso e prejudicando as populações humanas que dependem do rio. Nenhum grupo de interesse deveria está sendo favorecido em detrimento de outro no que diz respeito ao consumo da água, por isso mesmo a necessidade da criação do comitê gestor que tenha jurisdição na Bahia e em Minas Gerais, e que seja devidamente estruturado para conduzir o processo de preservação e recuperação da bacia hidrográfica.

De maneira ilegal, o poder econômico-financeiro tem interferido na distribuição equânime dos recursos hídricos do Rio Pardo, mesmo não existindo institucionalidade, os grandes fazendeiros, têm transito livre com os órgãos reguladores da União e do Estado que são responsáveis pela gestão e fiscalização. Ao passo que a sociedade civil e os governos municipais matem-se fora do debate por desconhecimento. O fato é que os irrigantes, de maneira unilateral, não têm autoridade institucional para determinarem a quantidade de água que deve passar no leito do rio.

Além disso, não existem estudos que garantem que a ampliação de lavouras cafeeiras e de eucalipto em nossa região não interfere no agravamento da crise hídrica a qual estamos permanentemente submetidos por situarmos região de abrangência do semiárido brasileiro. É por não serem capazes de garantir que teremos água nos próximos dias que não podemos entregar o destino dos nossos municípios aos grandes produtores que negociam as suas safras na bolsa de valores e que gera um número de empregos que não justifica tamanho sacrifício.

Irrigantes represam o rio de maneira indevida no alto Rio Pardo e nenhuma providência é tomada pelas autoridades públicas da União, a barragem do Machado, maior empreendimento na bacia hidrográfica, que deveria garantir a perenização do rio no trecho de baixa recuperação de vazão, sequer recebe a água dos afluentes e do leito que estão interrompidos de maneira criminosa em propriedades acima da barragem.

A sociedade civil por sua vez, precisa participar de maneira organizada todos têm um papel importante na proteção do Rio Pardo. O poder público tem a obrigação de fazer a sua parte no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos, tanto os Estados como os Municípios, existem fundamentos legais que devem partir das duas esferas e que são imprescindíveis para a criação desta rede de proteção dos recursos naturais nos territórios.

Movimentos como a articulação Bahia Minas Gerais em defesa do Rio Pardo, composto por diversas entidades da sociedade civil é um exemplo de iniciativa no sentido de proporcionar o diálogo entre as comunidades dos dois Estados sobre a necessidade de reconhecer os recursos hídricos, antes de tudo, como direito humano e patrimônio de todos.