Não existe espaço para retrocessos na sociedade brasileira do
século XXI e é isso que acontece quando se admite o impedimento de um mandato
público sem crime de responsabilidade, apenas pela força do parlamentarismo
ilegal, haja vista sermos uma República Presidencialista.
As possibilidades do Estado democrático de direito do Brasil
são maiores que o conservadorismo burro que é exercido pelos analfabetos
políticos, intolerantes e fundamentalistas que não se atentam para incoerência
entre as suas idéias, ações e o texto constitucional que estabelece logo no início
que todos são iguais perante a Lei.
Essa disputa entre cores ocorre à margem do texto
constitucional onde estão estabelecidas diretrizes as quais se pautam em
Direitos Humanos e Justiça Social.
Injustiça como Traço Social
O processo de formação da sociedade brasileira se deu por
meio da exploração de negros e indígenas nos primeiros séculos após o
descobrimento, a força de trabalho dessas pessoas era a locomotiva que puxava a
economia do Brasil.
Até a libertação dos escravos em 1888 a mão de obra dos seres
humanos negros do Brasil, por exemplo, é que construiu este país, de modo que,
além de uma dívida moral pela exploração do semelhante, a sociedade brasileira,
precisa reconhecer que se somos a 7ª economia no mundo, devemos aos explorados
e degredados do Brasil ao longo desses mais de 500 anos, afinal, apenas a pouco mais de
um século, o governo brasileiro deixou de permitir que a mão-de-obra escrava
fosse utilizada como força motriz da economia.
O grande desafio do Brasil é que a política nacional sempre
foi conduzida pela elite e em alguns momentos da nossa história, a elite só
defendeu os seus interesses. É o que ocorre com a elite do Brasil do século XXI
que não representa nada além de escombros dos casarões velhos dos coronéis,
totalmente incompatíveis com uma República democrática.
A República Federativa do Brasil foi proclamada em 1889,
nesse período predominava o sistema político coronelista e o país era governado
pelas elites do Sudeste, a república café com leite, onde os interesses das
elites: mineira e paulista eram priorizados no conjunto das instituições do
Estado, e, naturalmente, há um ano da abolição da escravatura, sem os cidadãos
negros possuírem nenhuma política pública que os acolhessem na situação de
homens livres, a desigualdade era avassaladora.
Até a promulgação da Constituição de 1988 a República do
Brasil passou por 4 fases distintas: a República Velha (59 anos), a Era Vargas
(15 anos), A República Populista de 1945 a 1964, período em que o
desenvolvimentismo econômico e a guerra fria orientavam as ações dos governos de todos os
países do mundo.
O último período da nossa história que antecedeu a Nova
República foi a Ditadura Militar, instituída no Brasil em 1964 por meio de um
golpe orquestrado por setores conservadores da sociedade brasileira e o
exército. Esse período durou 21 anos e é considerado o mais sombrio da nossa
história recente.
Durante a Ditadura Militar foram decretados Atos
Institucionais que cassavam garantias individuais e a liberdade de expressão
das pessoas, dentre esses decretos do autoritarismo no Brasil vale destacar o
ato institucional AI-5 baixado em 13 de dezembro de 1968 e que vigorou até
dezembro de 1978, o período foi considerado o mais duro do regime.
Redemocratização do Brasil
Em 1985 a ditadura chegou ao fim com a eleição indireta do
presidente da República, nos meses que antecederam a eleição de Tancredo Neves,
a sociedade brasileira saiu às ruas exigindo eleições diretas e que direitos
humanos básicos fossem assegurados ao povo brasileiros. O movimento ficou
denominado como Diretas Já, o republicanismo no Brasil estava em alta e em nome
da democracia, Lula e FHC compuseram o mesmo palanque, por exemplo.
No dia 15 de Janeiro de 1985 Tancredo foi eleito presidente
para um mandato de 6 anos pelo Colégio Eleitoral numa votação em que obteve 480
votos (75%), enquanto seu adversário Paulo Maluf obteve 180 votos (27,3%) na
época houve 26 abstenções. Tancredo Neves faleceu antes de assumir o mandato,
gerando grande comoção nacional, assumiu seu vice-presidente José Sarney que
governou o país até a eleição direta de Collor de Melo em 1989.
Com o advento da redemocratização do país e da promulgação da
Constituição de 1988 que suscita a participação dos vários segmentos da
sociedade brasileira na política: a classe trabalhadora, os movimentos sociais
e a academia, esses setores passaram a fazer parte da normalidade democrática
do Brasil.
Desde o fim da ditadura passaram-se 33 anos, dos quatro
presidentes eleitos pelo voto direto, nesse período apenas um sofreu
impeachment por cometer crime de responsabilidade, o ex-presidente Collor que
ficou no poder de 1990 a dezembro 1992 quando foi destituído do cargo, passando
a assumir o vice-presidente Itamar Franco.
Também passaram pela presidência Fernando Henrique Cardoso
(dois mandatos), Luís Inácio Lula da Silva (dois mandatos), e em 2010 o Brasil
elegeu a primeira mulher, uma militante de esquerda, presidente da República
Federativa do Brasil e a reelegeu com 54 milhões de voto em 2014.
Atualmente o país vive uma anormalidade em sua democracia,
pois desde a confirmação da vitória de Dilma Rousseff nas urnas em dezembro de
2014 os partidos derrotados não aceitaram o resultado das eleições. Alguns
parlamentares sulistas de direita, logo após a confirmação da eleição de
Dilma para o segundo mandato, afirmou que eles, a oposição, sangrariam o
governo até inviabilizá-lo.
Mesmo tendo instituições fortes e direitos assegurados em
Lei, entre eles o direito de ter opinião, direito político entre outros. Muitos
destes direitos que a CF/1988 assegura, precisam ser regulamentados pelos
parlamentares e os que já o são, devem ser cumpridos pelos agentes públicos e
pela sociedade.
O papel da Grande Mídia
Recentemente a grande mídia do Brasil vem se comportando de
maneira partidária, não apresentam a imparcialidade e neutralidade necessárias
para que a notícia tenha credibilidade, esses veículos, que estão a serviço do
corporativismo e do capital financeiro, ignoram de maneira irresponsável o
processo de formação da sociedade brasileira.
Na expectativa de satisfazer a audiência mais rica, a que
consome mais dos seus anunciantes, a que está concentrada nos grandes centros
urbanos do país e regiões metropolitanas, as redes de comunicação
descomprometidas com o bem-estar do conjunto da sociedade brasileira, atuam de
maneira facciosa e seletiva.
Atualmente, importantes veículos produtores de conteúdo e
mídias estão a serviço de uma elite movida por um conservadorismo burro, onde
as pessoas são estimuladas a exercerem o direito político na perspectiva do
ódio e do sectarismo, sem compreenderem ao menos os objetivos da constituição
vigente no país.
Os monopólios de mídia, que possuem dívidas estratosféricas
com a União e que sonegam impostos, não podem continuar controlando a
totalidade das concessões públicas, são necessários regulamentos, mecanismos
legais e coerentes com a CF/1988 que orientem quanto ao funcionamento do setor
de comunicação no Brasil, o país não pode se resumir aos municípios mais
populosos, pois 80% das cidades brasileiras têm até 30.000 mil habitantes.
Os veículos de mídia brasileiros não podem continuar sendo
instrumentos para àqueles que não aceitam o resultado de uma eleição
democrática e legítima. Não é razoável o posicionamento odioso e revanchista
das elites contra a classe trabalhadora que foi capaz de ter a maioria dos
votos, após participar e vencer o pleito eleitoral de 2014, que ocorreu na mais
estrita normalidade.
O papel de Eduardo Cunha
Um dos principais artífices da crise moral e política pela
qual passa o Brasil é um brasileiro que se tornou presidente de uma das casas
legislativas da República, condenado do Supremo Tribunal Federal – STF no processo em que foi acusado de ter
diversas contas milionárias em paraísos fiscais, para receber dinheiro de
propina e corrupção.
O deputado Eduardo Cunha, eleito pelo MDB do Rio de Janeiro,
se declarou inimigo pessoal da presidente da República quando deputados do PT
não colaboraram para o barramento de sua cassação na Câmara, antes disso, o
parlamentar cumpriu a estratégia dos que preferem sangrar a economia
brasileira ao invés de recuperá-la e salvá-la.
Pautas bombas, obstrução de pautas, manobras no regimento
interno, tudo isso respaldado por uma maioria absoluta de achacadores,
herdeiros de mandatos, filhos do fisiologismo político que perdurou até então
no Brasil e outros que são apenas instrumentos de interesses escusos por meio
do mandato parlamentar.
A Câmara dos Deputados eleita em 2014 é considerada uma das
mais desqualificadas de todos os tempos, pessoas equivocadas, que mesmo fazendo o
juramento de defender o texto constitucional, praticam crimes de racismo e ódio
ao utilizarem a tribuna do poder legislativo. O que é mais gritante na atual
composição de uma das casas legislativas do nosso país é o desconhecimento dos
deputados acerca do Estado de direito.
O protagonismo esquizofrênico de Eduardo Cunha mais a
manipulação feita pelos meios de comunicação conjuntamente com setores do
judiciário e do ministério público teve seu ápice em 17 de Abril de 2016
quando, mesmo sem a existência de crime de responsabilidade, 367 dos Deputados
Federais votaram pela admissibilidade do processo de impedimento do mandado da
presidente da República Dilma Rousseff.
Comunidade Internacional
Situação pela qual passa o país tem chamado a atenção da
Comunidade Internacional, que não consegue compreender como é possível um réu
da Suprema Corte de um país conduzir um processo de impedimento do mandado de
uma presidente legitimamente eleita e que não cometeu crime de
responsabilidade.
Todos acompanham apreensivos o momento delicado pelo qual
passa o Brasil, que, em meio à crise da economia mundial, tem um problema
interno dessas proporções, que coloca em cheque a institucionalidade de uma das
nações fundadoras da Organização das Nações Unidas – ONU, inclusive, em
comunicado inédito, o secretário geral do organismo, enviou mensagem ao Brasil
demonstrando a sua preocupação com a normalidade democrática e com a garantia
de Direitos Humanos no país.
Diante dos elementos disponibilizados pela história e a
política contemporâneas do Brasil, fica claro que não é uma questão de disputas
do tipo “eles contra nós”, trata-se de direitos que devem ser assegurados, o
texto constitucional de 1988 estabelece direitos iguais ao povo brasileiro.
É certo que àquilo que não for coerente com o Estado
democrático de direito, que não tem esse nome por acaso, não passará, do
contrário, o ordenamento jurídico do país vai ter a sua legitimidade
questionada e contratos podem não serem mais respeitados e entraríamos no
clichê de ser um país onde as Leis não são respeitadas, uma “republica das
bananas”, uma republiqueta com forte tendência de se tornar um paraíso fiscal.
O fato de a República Federativa do Brasil comprometer-se com
Direitos Humanos por meio de compromissos oficiais construídos pelo Ministério
das Relações Exteriores e a Presidência da República ao longo da vida
democrática do país é mais um motivo para que a vontade das urnas seja
respeitada.
É justamente por ter o processo de formação da sociedade
marcado pela injustiça, que o Brasil, após ter conquistado a independência e a
liberdade para o seu povo, não pode admitir uma sociedade que não planeja
espaços para os filhos da classe trabalhadora, que exclui e extermina os negros
e que não reconhecem os povos indígenas como povos originais, ou seja, no
Brasil ainda há muito a ser feito para corrigir as desigualdades.
Não existe espaço para retrocessos na sociedade brasileira do
século XXI, onde direitos já foram conquistados através de vidas que se
sacrificaram ao longo dos 518 anos do Brasil, humanistas que nos diferentes
períodos da história, contribuíram das mais diversas formas para que o Brasil
se tornasse uma grande Nação livre e fraterna.
Recentemente, o Brasil juntamente com os demais países da ONU
assinou o Acordo do Clima, considerado o mais avançado dos últimos tempos, nele
as Nações Unidas, após a experiência bem sucedida dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio – ODM lançados no ano 2000, onde foram estabelecidas
e alcançadas metas pelos países ao longo de 15 anos.
O Brasil se destacou no cumprimento dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, principalmente, nos objetivos relacionados ao
combate à fome e à pobreza, também tiveram avanços em setores como educação e
saúde, mas o que chamou a atenção da Comunidade Internacional foi a capacidade
do país retirar milhares de pessoas da situação de pobreza e elevá-las à classe
média. O Programa Bolsa Família é considerado um case de sucesso pelos países
civilizados do globo.
Com a Agenda 2030, onde foram estabelecidas metas nas mais
diversas áreas do desenvolvimento humano para todos os países membros das
Nações Unidas o espaço para o golpismo em democracias consolidadas como o
Brasil fica ainda mais escasso. A República não pode ser conduzida de maneira ilegítima
por quem não reconhece a diversidade como essência da sociedade brasileira.
Estamos suficientemente alinhados com o Direito Internacional
e aos Direitos Humanos, de modo que não é possível aceitar movimentações
articuladas por meio de conluio e conspiração contra o interesse da maioria dos
brasileiros, os que querem o golpe por entenderem que o caos é melhor que
aceitar as diferenças e respeitar o próximo, devem ser interrompidos para que
não continuem causando transtornos à sociedade brasileira.
Conclusão
Não se trata de ficar do lado A ou B, golpismo na
política prejudica o Estado de direito, e isso não podemos aceitar, o Brasil
não pode cair no rol das repúblicas das bananas, 210 Milhões de habitantes não
podem ter os seus destinos desviados da rota do progresso por conta do capricho
de alguns segmentos da sociedade.
Precisamos garantir um futuro glorioso para o Brasil e isso
passa, necessariamente, pela nossa capacidade de preservar as instituições
democráticas, temos que interromper todas as ações conspiratórias e golpistas,
pois esse movimento motivado pelo ódio e rancor asfixia as possibilidades da
República Federativa do Brasil.