Pelo fato de o país ser diverso e
desigual, possuir dimensões continentais e ter uma população multicultural, a
intersetorialidade é a maneira que os governos públicos têm para integrar os
diversos serviços, e no Plano Municipal não pode ser diferente.
O Brasil saiu nas últimas décadas
do grupo dos países mais desiguais do mundo e, principalmente, após a
promulgação de 1988, caminha no sentido de fazer os reparos do processo de
desenvolvimento excludente implantado desde o descobrimento.
Desigualdade e Pobreza Rural
A concentração de renda é uma
característica do nosso país, e a desigualdade está registrada até mesmo em
nossa geografia. Após promover a ascensão social de mais de 30 milhões de
brasileiros, principalmente, das regiões metropolitanas, o desafio agora é
encarar a pobreza rural, mais de 80% dos municípios brasileiros tem menos de 50
mil habitantes.
Coincidentemente, os municípios rurais do Brasil, em sua maioria, estão localizados nas regiões Norte e
Nordeste do país, as regiões menos desenvolvidas economicamente, sendo assim a
articulação entre políticas públicas nos municípios dessas regiões é princípio
fundamental e deve estar bem definido nos planos locais.
Por ser um município de origem
rural, grande parte da população de Cândido Sales está concentrada no campo,
cerca de 50%, dessa forma, as instituições que defendem o interesse do meio
rural, também precisam participar dessa convergência de esforços.
Intersetorialidade no Plano Municipal
No caso da audiência pública que
tratou do PME do município de Cândido Sales-BA no dia 21 de Maio deste ano,
onde foi apresentado o texto base, os expositores das metas e estratégias
reconhecem a importância da participação de outros setores do município na
política de educação, até mesmo pela fragilidade do perfil social da
comunidade.
Durante a abertura do evento
compuseram a mesa mais de um representante do legislativo, o prefeito da
cidade, o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais e a secretária de
saúde, no entanto, na segunda etapa, onde foram realizados os “debates”, das
instituições citadas, só permaneceu o vereador Robson Freitas que é professor e
faz parte da comissão do Plano.
No momento de votar o texto base,
não havia representantes de outros setores públicos do município como: saúde,
assistência social, segurança, administração etc. Permaneciam apenas alguns
funcionários da educação, 01 vereador/professor e de situação e 01
representante do Movimento Cidade Nossa.
A intersetorialidade é
fundamental em uma política pública de longo prazo como o PME, articular o
conhecimento, recursos e informações das diversas áreas, principalmente, as
financiadas com os recursos de tributos da população deve ser um compromisso
moral dos que assumem a coisa pública.
Aspectos da Audiência Pública
Durante a discussão das metas do
plano municipal alguns setores ganharam destaque pela a importância que exercem
para que os objetivos do PME sejam alcançados, áreas como a saúde (SUS) e assistência
social (SUAS), precisam agir mutuamente pela educação adequada dos brasileiros
de Cândido Sales.
Embora os organizadores do PME do
município assegurem, que o texto base apresentado na audiência pública seja
resultado de ampla discussão com os diversos setores, a fraca participação da
sociedade civil ficou escancarada, principalmente, no momento em que o
documento foi posto em votação pela secretária de educação.
Além disso, os aspectos da
intersetorialidade não foram discutidos na audiência pública, que iniciou com
atraso de duas horas e não cumpriu o que estabelece em seu próprio regimento
interno no Art. 13, Capítulo IV da realização da audiência pública, os
esclarece que logo após a exposição do documento deve ser feita a análise das
informações expostas nos painéis.
Não cumpriram o horário, o
cronograma e nem mesmo o regimento interno da audiência pública onde deveria discutir
e aperfeiçoar um texto genérico, feito com muito esforço pelos técnicos da
secretaria de educação, de modo a ser coerente com a Lei 13.005 de 2014, no
entanto, esse mesmo documento ignorou a meta do PNE que trata do financiamento
da educação, e não abordou adequadamente, questões referentes à minoria.
Por exemplo, o texto do PME de
Cândido Sales-BA, na sua introdução constata a existência de povos indígenas na
origem do município, e quando elaboram as metas, ignoram as estratégias que
tratam desse assunto.
Esses aspectos da audiência
pública que tratou do texto base do plano municipal de educação e o próprio
conteúdo do documento não foram suficientemente discutidos na audiência pública
do dia 21 de maio, e aos presentes nem se quer foi feito algum pedido de
desculpas pelo pequeno atraso de 02 horas.
Durante o “debate” apenas três
pessoas, além dos expositores se posicionaram, sendo que não tiveram direito a
réplica, de modo que não houve debate algum, pela falta de elementos
importantes para a discussão intersetorial e pela maneira com a qual a
audiência foi conduzida pelos seus organizadores.
Cadastro Único
Um exemplo de como diversos
setores públicos podem interagir em um trabalho intersetorial é o que ocorre
com o Cadastrado Único ou CadÚnico do governo federal quando utilizado pelas
diferentes esferas da União para a construção de uma determinada estratégia.
O CadÚnico que foi criado na
gestão do ex-presidente Fernando Henrique em 2001 é um instrumento de coleta de
dados que tem o objetivo de reunir informações de todas as famílias de baixa
renda do país para que sejam atendidos pela assistência social e por programas
de redistribuição de renda.
As informações são as mais
variadas sobre as famílias cadastradas, e podem ajudar o município, por
exemplo, a construir um diagnóstico mais preciso sobre as pessoas que estão
sendo atendidas.
Esse sistema eletrônico gera uma
base se informações que pode ser acessada por municípios, estados e pelo
próprio governo federal, possibilitando a intervenção de qualquer um dos entes
federativos numa dada realidade, com base no perfil socioeconômico da
comunidade. É pelo Cadastro Único que o governo seleciona as famílias a serem
beneficiadas com políticas sociais.
A atualização do CadÚnico é de
responsabilidade do município, que deve promover visitas periódicas aos
domicilio para esse fim e as famílias que ainda não estão cadastradas devem
procurar o Centro de Referência em Assistência Social – CRAS.
Programas como Bolsa Família,
Minha Casa Minha Vida, Bolsa Verde, Programa de Erradicação do TrabalhoInfantil – PETI e Programas de Fomento às Atividades Produtivas Rurais são
todos geridos através do CadÚnico e poderiam impactar positivamente na vida da
comunidade caso os gestores públicos fossem capazes de compartilhar objetivos.
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