O Conselho Estadual de Saúde –
CES juntamente com a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia realizaram entre os
dias 06 e 08 de Outubro a nona conferência estadual de saúde, o evento foi
marcado pela forte participação da sociedade civil.
Com delegações dos 417 municípios
baianos a conferência de 2015 foi composta em sua maioria por delegados
usuários do SUS, o que reforça a sua legitimidade.
O tema da conferência de saúde
foi idealizado pelo Conselho Nacional de Saúde – CNS, assim como a metodologia para
a sua realização nas etapas municipal e estadual: SAÚDE PÚBLICA DE QUALIDADE
PARA CUIDAR BEM DAS PESSOAS. DIREITO DO POVO BRASILEIRO.
Os delegados eleitos nas etapas
municipais foram convidados a debater e aperfeiçoar as mais de 600 propostas
selecionadas das mais de 6000 que vieram das cidades baianas, na oportunidade, foram
aprovadas 40 propostas a serem encaminhadas à 15ª Conferência Nacional de
Saúde.
Além da realização de plenárias e
dos grupos de trabalho para aprovação e aperfeiçoamento das propostas da etapa
municipal, a 9ª Conferência Estadual de Saúde garantiu em sua programação a
existência de outros espaços como a tenda Maria Felipa inspirada nas “Tendas
Paulo Freire”, espaço propício à liberdade de expressão, produção de cultura e
ao debate político.
A tenda freiriana da 9ª
Conferência de Saúde do Estado da Bahia homenageava a baiana Maria Felipa de
Oliveira, heroína que teve importante papel na Guerra da Independência que
ocorreu entre 1822 e 1824, para reafirmar a independência proclamada em 7 de
Setembro de 1822. Além de guerrilheira Maria Felipa exerceu o papel de
enfermeira durante os confrontos.
Também fizeram parte da
programação o Espaço de Cuidado Roque Onorato com a realização de práticas
populares e integrativas de cuidado à saúde, a Feira Solidária Popular e o Cine
SUS. Todos esses espaços
apresentaram publicações e boas práticas no Sistema Único de Saúde.
Logo no primeiro dia da
conferência o caráter participativo e de controle social foi colocado em
prática pelos delegados presentes, que ao solicitarem questões de ordem
apresentavam as suas demandas à gestão estadual e ao Conselho Estadual de
Saúde.
As pessoas com deficiência foram as primeiras a exigirem o cumprimento da
Constituição e do regimento da conferência para que fossem garantidos direitos
durante a realização do evento.
Os delegados reivindicaram a
existência de um número maior de tradutores de libras, espaços reservados aos
cadeirantes, e pessoas para conduzirem os cegos quando necessário. Na tarde do
dia 06 a conferência foi interrompida para que todas as exigências fossem
garantidas e os trabalhos foram retomados no dia seguinte.
Os organizadores do evento
atribuíram as irregularidades a dificuldades impostas pela gestão e devido à
mudança do local previsto para a realização da 9ª Conferência Estadual de
Saúde.
Alguns delegados gestores
reclamaram sobre o fato de não terem as suas despesas de hospedagem custeadas
pela SESAB, que justificou dizendo ser da responsabilidade do município liberar
diárias para os gestores que participam da etapa estadual da conferência.
Já no dia 07 de Outubro, segundo
dia de conferência, foi aprovado o regimento e criados grupos de trabalho, que
acolheram as centenas de delegados que aperfeiçoaram as propostas de cada um
dos oito eixos da conferência.
O papel do grupo de trabalho
consistia em discutir e aperfeiçoar as propostas da etapa estadual e nacional.
A discussão nos grupos aconteceu de maneira democrática e obedecendo a
metodologia sugerida pelo CNS, em cada equipe de trabalho havia um facilitador,
oferecido pelo CES, além de coordenador, relator e assistente de relatoria que
foram eleitos pelos delegados presentes.
Propostas foram melhoradas,
suprimidas e aprovadas nos grupos de trabalho, e parte das propostas a serem
encaminhadas para a etapa nacional, foram definidas neste momento da
conferência.
No último dia da conferência, os
grupos de trabalho que ainda estavam pendentes completaram a missão e os
delegados se encaminharam para a plenária da 9ª Conferência, onde foram
realizadas consultas ao pleno através do regime de votação.
Foram escolhidas as propostas do
estado da Bahia a serem apresentadas na 15ª Conferência Nacional de Saúde e os
delegados que estarão representando o Estado na última etapa da conferência de
saúde que ocorrerá em Brasília-DF.
A 9ª Conferência de Saúde do
Estado da Bahia, certamente, será um marco para as políticas públicas de saúde
da unidade federativa, o alto nível dos participantes possibilitou que as
demandas da população se concretizassem em propostas bastante objetivas.
A Bahia disse não à privatização
do SUS e a sociedade civil mandou recado aos grupos financeiros e aos gestores
descomprometidos com o direito à saúde dos brasileiros. Os desafios da saúde
pública dos baianos são muitos e diversos, no entanto, compreendê-los já é
significativo, o passo seguinte, deve ser o planejamento adequado para a
superação dos desafios.
De modo geral, o SUS estadual não
está estruturado como orienta a Lei 8.080/90 e princípios como a universalidade
e integralidade dos serviços de saúde não estão sendo assegurados aos usuários
baianos, o que infringe a Constituição de 1988.
Esse aspecto dificulta a
realização de pactuações entre os governos das diferentes esferas e impede a
implementação dos instrumentos de gestão do Sistema Único de Saúde, não
havendo, dessa maneira, um controle racional das demandas de saúde de cada
município.
A regionalização que deve ocorrer
na prestação do serviço no Território Estadual, por exemplo, acaba sendo
impedida pela inépcia das gestões municipais que compõem determinadas regiões
de saúde, que privilegiam a comercialização avulsa dos serviços de saúde por
empresas particulares ao invés de fortalecer os serviços da Atenção Básica, de
modo, que ao reunirem-se nas Comissões Intergestores Bipartite – CIB, essas
cidades não tem as suas demandas estruturadas, por não possuírem diagnósticos
realistas.
Os municípios que não cumprem a
legislação do SUS, mais precisamente, os instrumentos de gestão, acabam não se
inserindo adequadamente no Plano Estadual de Saúde, um exemplo é quando a
cidade não emite relatório anual da Saúde Municipal prestando contas à
população das metas e prioridades estabelecidas para o período, impossibilitando
a retroalimentação do sistema com informações que deveriam atualizar a Agenda
de Saúde do município.
Essas e outras irregularidades
quanto à gestão foram apresentadas e discutidas na 9ª Conferência Estadual de
Saúde, propostas foram aprovadas para superar as dificuldades quanto à regionalização
dos serviços na Bahia, inclusive, a de reativação e reestruturação das
Diretorias Regionais de Saúde – DIRES.
Somente o controle social forte
nas cidades será capaz de assegurar a implementação do SUS em todo Território
Nacional, enquanto a legislação estruturante do Sistema estiver sendo ignorada
no âmbito municipal, será impossível assegurar uma saúde integral, universal e
regionalizada aos brasileiros.
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