Que interesses são maiores
que a sobrevivência humana na região? Estudo socioambiental realizado na
bacia hidrográfica do Rio Pardo revela grande contraste entre a realidade e o
que determina a legislação do país quanto ao consumo da água.
O estudo realizado por
entidades que compõem a articulação da sociedade civil dos Estados de Minas e
Bahia demonstra que, em municípios que sofrem com desabastecimento humano, o
consumo diário dos irrigantes chega a ser 67 vezes a mais que o da população das cidades.
Pesquisadores do Centro de
Estudos e Ação Social – CEAS e da Universidade realizaram levantamento de
informações junto à Agência Nacional de Águas – ANA, fizeram visitas de campo,
principalmente, na região da Central Geradora Hidrelétrica – CGH no Machado
Mineiro.
O estudo revela que das 111 outorgas liberadas pela ANA ao longo dos 565 Km da nascente à foz do Rio Pardo,
90% são destinadas a captação para irrigação e 29 delas são exclusivamente para
a monocultura do café.
Somente as outorgas liberadas
para os plantadores de café captam do rio diariamente o equivalente à população
de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Pardo. O total retirado pelos cafeicultores
daria para abastecer uma população de 640.121 habitantes durante 01 ano.
Os pesquisadores constataram
também uma maior concentração de outorgas para irrigação na região da CGH que,
quando foi construída, tinha como finalidade, além de gerar eletricidade,
perenizar o Rio Pardo naquele trecho.
Quatro municípios irrigantes
consomem 75,5% da água contabilizada via outorgas da ANA sendo eles:
Encruzilhada-BA, 28,3%; Águas Vermelhas-MG, 23,6%; Cândido Sales-BA, 12,7% e
Ninheira-MG, 11,1%.
Quando comparado o consumo
diário dos irrigantes com o da população nos municípios que mais captam, onde se constata
desabastecimento humano, os números chamam a atenção dos pesquisadores.
No município de Encruzilhada
na Bahia, por exemplo, a quantidade de água retirada diariamente para irrigação daria para abastecer com sobra toda a população de Vitória da Conquista-BA. Destaca-se que estes são dados oficiais de
retirada de água. Mini barramentos acima da Barragem do Machado Mineiro
potencializam ainda mais o estresse hídrico.
São 21 mini-barragens particulares e
quatro da COPASA e, de acordo com testemunhas, os barramentos não têm válvula
de fundo, e três deles foram multados porque estavam aumentando seu volume de
forma irregular. São autorizados pela ANA, mas, ilegalmente, usam chapões para aumentar a água represada para a
irrigação.
A realidade identificada na região da barragem do Machado Mineiro no Médio
Rio Pardo acontece à margem da Lei Federal N. 9.433/93 e do artigo da
constituição que trata da gestão dos
recursos hídricos, pois ainda não se
instituiu o Comitê da Bacia Hidrográfica
do Rio Pardo.
Os conflitos causados pela crise hídrica no mundo e no Brasil tem se
intensificado nos últimos tempos, isso,
em decorrência da incapacidade do governo promover os institutos legais em todo
Território Nacional.
Territórios municipais do semiárido brasileiro estão sendo aniquilados por
sistemas empresariais de monocultura que utiliza de forma desproporcional o
recurso hídrico e, que ampliam suas matrizes de produção sem levarem em conta a
característica climática e ambiental da região.
O consumo humano diário de água na região pesquisada corresponde a 6% do
que os irrigantes retiram por dia nos mesmos municípios. Entre esses municípios
está Cândido Sales onde os irrigantes retiram diariamente mais de 25 Milhões de
Litros d’água, sendo que somente uma propriedade consome 66,6% desse total, ou seja, 04 vezes mais que o
consumo diário da cidade.
A crise hídrica na região é potencializada pelos longos períodos de seca e,
principalmente, pelo desmatamento que é descontrolado. O Médio Rio Pardo,
região onde está a maior concentração de outorgas para irrigação na bacia, faz
parte do semiárido brasileiro, nesta mesma região os municípios já desmataram
mais de 80% da vegetação nativa.
O município de Cândido Sales-BA, por exemplo, desmatou entre 2014 e 2015 o
equivalente a 7.000 campos de futebol, é o que apontam os dados do INPE, essa
característica acelera a desertificação e o assoreamento do rio.
A água não é só importante para a dessedentação de seres humanos e animais,
o recurso hídrico é fundamental no desenvolvimento dos Territórios Municipais
por onde passa a bacia hidrográfica, desse modo, garantir a distribuição do
recurso levando em conta o perfil socioeconômico da população deve ser um
compromisso dos agentes públicos.
Ou seja, a percepção sobre a importância do rio não deve se limitar à
torneira, na verdade, precisa atender a muitas outras necessidades e direitos
humanos, como lazer, trabalho, cultura etc.
Sob permanente ameaça à sobrevivência humana os municípios da bacia
hidrográfica do Rio Pardo têm na agricultura familiar um indutor de desenvolvimento
econômico em potencial, por isso mesmo, a maneira como os recursos hídricos
estão sendo distribuídos deveria ser de extremo interesse dos governantes destes
municípios pobres.
Se a lei assegura que o consumo humano é a prioridade na disputa pela água,
fazer cumprir os dispositivos legais que garantem esse fundamento é obrigação
dos governantes e da sociedade civil organizada.
Diante da insegurança jurídica em torno da gestão dos recursos hídricos da
bacia hidrográfica do Rio Pardo, cabe às cidades que a compõem promover a
discussão com a população através de conferência pública que lance luz ao tema.
É preciso refletir sobre qual será o futuro da água em nossa região sob essa
condição socioambiental.
Os impactos ambientais causados por todas essas irrigaçoes as quais com "outorga bem fiscalizadas" são imensuráveis e deletérias à toda bacia hidrográfica.
ResponderExcluirNinguém bebe gasolina ou come hardwere.
Precisamos cuidar e defender nossa fonte primária de vida para nossa sobrevivência.
Justamente.
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