No Brasil as conferências
públicas são obrigatórias e visam assegurar o princípio constitucional da
participação popular no Estado democrático. As conferências de políticas
públicas são consideradas o momento máximo do controle social, pois envolvem
todos os interessados no funcionamento adequado do serviço público.
As conferências possuem caráter
deliberativo, ou seja, o que é aprovado nas plenárias deve servir de orientação
para o ajuste e gestão da política pública.
Devem ocorrer periodicamente ou
em caráter extraordinário, no caso da Conferência de Assistência Social ocorre
a cada (2) dois anos. No último dia 27 de Agosto o Conselho Municipal de
Assistência Social – CMAS e o gestor local do Sistema Único de Assistência Social
- SUAS realizaram a X Conferência Municipal de Assistência Social de Cândido
Sales-BA.
A conferência atendeu ao pleito
convocatório da Portaria Municipal Nº 1079 de Agosto de 2015, assinada
conjuntamente pelo prefeito da cidade e o presidente do CMAS. Entre os
objetivos estabelecidos no Regimento Interno aprovado na X Conferência está o
aprimoramento de mecanismos que favoreçam ao protagonismo do usuário.
Regimento Interno
O instrumento legal da
conferência deve servir de espaço para a prestação de contas do poder público à
sociedade e um dos objetivos da X Conferência Municipal, seria avaliar o Plano
decenal 2005 a 2015 e planejar as metas de 2016 a 2026, como consta no Art. 4º
do Regimento Interno.
Além disso, a X Conferência
deveria elaborar Plano Decenal a partir das metas deliberadas na IX Conferência
Municipal de Assistência Social e escolher os representantes do município que
irão participar da edição estadual da conferência.
O tema da conferência foi
“Consolidar o Sistema Único de Assistência Social de vez, Rumo a 2026”, e
segundo a metodologia do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, o tema
deveria ter sido discorrido através de 03 sub-temas e 05 Dimensões Temáticas.
Realização da Conferência
Podemos assegurar que alguns dos
objetivos da Conferência Municipal de Assistência Social não foram garantidos
no dia 27 de Agosto de 2015. E reconhecendo a importância das políticas
públicas do SUAS para uma realidade socioeconômica como a de Cândido Sales-BA,
não é possível aceitar que um instrumento legal tão importante como a
conferência pública não funcione com base no seu próprio Regimento Interno.
Não foi possível avaliar o Plano
Decenal 2005 a 2015, pois não foram apresentadas informações estruturadas nesse
sentido. Depois de levantada questão de ordem por um dos participantes da
conferência quanto a este objetivo, a coordenadora interrompeu o que estava
fazendo e apresentou alguns dados em slides referentes aos dois últimos anos de
gestão.
Sem as informações estruturadas
da década anterior, que segundo o próprio regimento da conferência daria
suporte para o debate e construção de planos e metas no SUAS Municipal, não
podemos garantir que as propostas aprovadas na X Conferência Municipal de Assistência
Social refletem a necessidade do sistema.
Como sugere o tema da X
conferência, o espaço deveria servir para que fossem construídas as diretrizes
do Plano Decenal (2016 a 2026), ou seja, um plano de longo prazo. No entanto, é
possível afirmar que os Sub-temas e as (5) Dimensões não foram suficientemente
debatidos e compreendidos pelos participantes da conferência municipal.
Isso se deveu ao formato do
evento, que implicou no prejuízo dos objetivos da X Conferência Municipal de
Assistência Social. Um dia pareceu não ter sido o suficiente para realização
adequada da conferência do SUAS em Cândido Sales-BA.
Apesar de existirem muitos pontos
a serem compreendidos à cerca dos objetivos da conferência e suas dimensões
temáticas, não houve palestras específicas sobre o tema, limitando-se à
apresentação da Srª Mércia Lima, técnica do PBF Estadual.
A Técnica estadual do Programa
Bolsa Família – PBF, falou sobre a necessidade de se consolidar o SUAS e
abordou sobre a implementação da vigilância social e da intersetorialidade que
deve existir para que os direitos dos usuários do sistema sejam garantidos.
Até mesmo a palestra da Srª
Mércia foi prejudicada pela programação da conferência, pois deveria ser
realizada em 60 minutos + 30 minutos para perguntas e respostas. A palestra
principal aconteceu em 35 minutos e não existiram perguntas e respostas sobre o
tema exposto, encerrando para o almoço.
Após retornar às 14:00 a
atividade não lúdica da conferência já seria a criação dos (5) cinco grupos
temáticos que deveriam discutir cada uma das dimensões e construírem propostas
para serem apresentadas e votadas no final da conferência.
Os grupos foram divididos, tendo
como orientadores os funcionários da Assistência Social e tiveram 30 minutos
para explicar, compreender, construir propostas e fazer relatório de todos os
grupos e, mesmo acelerando o processo os trabalhos só foram encerrados por
volta das 19h20min, logo após as propostas serem aprovadas pelas pessoas que
restavam.
Participação Social
Durante a formação da mesa para a
abertura dos trabalhos foi possível registrar a presença de diversos agentes
públicos: vereadores, prefeito, secretários municipais, além das autoridades
civis e religiosas que se fizeram presentes na manhã daquele dia do mês de
Agosto.
No entanto, a presença desses
diversos atores não se confirmou ao longo da realização da conferência, de
modo, que no momento de aprovação das propostas, e até mesmo antes, no trabalho
em grupos, não havia se quer 01 representante do Poder Legislativo, por
exemplo.
Faltou também, a presença ativa
dos setores da saúde e educação, que dialogam diretamente com as políticas do
Sistema Único de Assistência Social e compartilham responsabilidades quanto às
condicionalidades do SUAS.
Não foi possível conhecer as
demandas e o pensamento dos representantes das duas áreas públicas saúde e
educação quanto à consolidação da política de assistência social no município.
Apesar dos discursos emocionados
dos representantes das diversas entidades durante a abertura da X Conferência
Municipal de Cândido Sales-BA, quase ninguém permaneceu para transformar
intenções em comprometimento institucionalizado.
Até mesmo o Conselho Municipal de
Assistência Social – CMAS não compareceu integralmente no evento que deveria
ser de prestação de contas, no encerramento, por exemplo, só estavam o
presidente mais um ou dois conselheiros que não faziam parte do governo.
Se for levada em conta a lista de
pessoas credenciadas para participar da X Conferência Municipal de Assistência
Social do município de Cândido Sales-BA no dia 28 de Agosto de 2015, realmente,
será possível constatar um número significativo de pessoas inscritas vindas de
diversos setores da sociedade.
Porém é necessário levar em conta
o fenômeno que ocorre nas conferências do município, onde as pessoas se
inscrevem, e não permanecem até o final da complexa e cansativa reunião. Por
exemplo, embora algumas conferências apresentem lista de 200 pessoas
credenciadas, no final, no momento de aprovar e votar, membros da sociedade civil,
desvinculados do poder público que permanecem até o final é cerca de 1 a 10 pessoas.
Em relação ao público geral que
apareceu na conferência das 08:00 às 19:20 vale destacar os cidadãos idosos,
predominantemente do sexo feminino que marcaram presença no evento. As senhoras
que fazem parte do projeto: “Encantos da Terceira Idade” da Assistência Social,
lotaram o auditório do espigão e permaneceram a maioria do tempo.
Durante a manhã as senhoras da
terceira idade apresentaram o resultado do trabalho realizado nas oficinas do
CRAS e fizeram apresentação de teatro entre outras coisas.
Uma pena, que apesar de ser um
grupo expressivo e relevante, não existe nenhum representante da terceira idade
no conselho municipal de assistência social. As margaridas da Terceira Idade
não permaneceram até o final para a aprovação das propostas, mas muitas delas
estavam presentes durante a discussão das dimensões em grupo.
Também passaram pela conferência
crianças, adolescentes e jovens que além de realizarem diversas apresentações
de música, coreografia, arte circense entre outras atrações, compuseram os
grupos de trabalho da conferência na tarde daquela quinta-feira.
Como aconteceu com as pessoas da
terceira idade, restaram poucos representantes de crianças, jovens e
adolescentes ao final da X Conferência Municipal de Assistência Social.
Outra característica que chama
atenção quanto à participação social na X Conferência do SUAS de Cândido
Sales-BA foi a pouca participação dos usuários do Programa Bolsa Família - PBF,
mais precisamente as mulheres que são responsáveis pelo cartão.
Em dado momento, durante os
grupos de trabalho, foi solicitado que erguessem os braços as pessoas presentes
que recebiam a Bolsa Família, cinco ou seis pessoas levantaram o braço, isso
numa realidade onde mais de 4.000 famílias recebem a transferência de renda, é,
no mínimo inusitado, e grave, e as demandas e propostas dos usuários do PBF?
Considerações Finais
Considerando a importância da
Conferência Pública como instância máxima da participação e controle social no
Estado democrático do Brasil, não é possível ignorar os prejuízos que
certamente a décima edição da Conferência Municipal de Assistência Social teve
ao não ser realizada com base no Regimento Interno aprovado.
A maneira como o evento foi
elaborado, privilegiou as apresentações em detrimento do debate, como consta no
cronograma da programação, e isso afetou a qualidade das propostas obtidas,
pois por mais esforço que tenham feito as pessoas ao permanecerem até o final e
aprovarem propostas, não é possível ignorar que foram infringidos artigos
fundamentais do Regimento Interno.
Ao realizar as conferências
públicas, momento máximo da participação social, o governo municipal deve se
atentar aos instrumentos que a legitimam, e durante a execução, cumpri-los
integralmente sem ressalvas.
Se o gestor público atropela o
Regimento Interno de uma Conferência, esta passa a ser instrumento do
fisiologismo institucional e o resultado dos seus trabalhos não refletirá
positivamente na qualidade de determinada política pública.
Esse fenômeno, o fisiologismo, se
combate com participação social autêntica e presente, algo que os municípios da
nossa região ainda não possuem.
Até mesmo a participação dos
conselhos de políticas pública é fraca e sem objetividade, no caso da X
Conferência, apesar de todas as irregularidades quanto ao Regimento Interno,
nenhum conselheiro levantou questão de ordem à mesa.
A participação saudável é a que
ocorre de maneira espontânea, onde as pessoas participam sem nenhum condicionamento
ou amarras. Por isso a necessidade de instrumentos de educação que ajudem o
cidadão comum a entender o que significa fazer parte de um Estado de
Direito.
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