Na última terça-feira o prefeito de
Cândido Sales-BA reconhecendo o grave problema de saúde pública que o município
vivencia com as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti, afirmou que se tratava
de um inimigo invisível, pois até aquele momento o setor de saúde não teria
confirmado nenhum dos mais de 140 casos notificados até 05/03/2016.
Essa invisibilidade relatada pelo
prefeito que é em decorrência da falta de planejamento do setor de saúde do
município, que desde 2013 vem trabalhando sem o Plano Municipal de Saúde não
deve impedir que as pessoas que apresentem sintomas das doenças transmitidas
pelo Aedes recebam o diagnóstico e o tratamento como orienta o Ministério da
Saúde.
O fato de a vigilância
epidemiológica do município não ter confirmado os casos através do exame de
sangue na 11ª semana epidemiológica, evidencia um despreparo do setor de saúde
que não é compatível com o serviço público que deveria ser devidamente
planejado e conduzido através dos instrumentos de gestão do SUS.
Essa falta de planejamento
adequado do setor de saúde desde o primeiro ano de gestão do prefeito atual,
como orienta a Lei 8.080 de 1990, impede que o município faça o enfrentamento
do surto epidemiológico com eficiência neste momento, pois não viabilizaram as
pactuações e os recursos que poderiam está sendo utilizados neste momento
crítico.
É provável que se a Lei fosse
cumprida no que diz respeito ao SUS Municipal de nossa cidade, o município não
estaria passando por esta situação crítica de saúde pública.
O problema se torna invisível
pelo fato das autoridades locais de saúde não conhecerem a dimensão e a
potencialidade do surto de dengue no território, o que coloca toda a população
em alerta total, pois todos correm risco de serem infectados, e nem ao menos
têm a garantia de que o problema está sendo enfrentado de maneira racional pelo
poder público local.
O mosquito Aedes Aegypti não nasce
com os vírus: dengue, zika e chinkungunya, ele transporta o vírus da pessoa
infectada para a não infectada ao se alimentar do sangue para garantir o seu
ciclo de vida. Neste caso, o ideal seria isolar ao máximo as pessoas
contaminadas e atacar os vetores, eliminando os mosquitos adultos e aplicando
larvicida onde for necessário, o município tentou fazer isso ao realizar o
BLOQUEIO, no entanto, por algum motivo, a estratégia utilizada no plano de contingência
da dengue, não impediu que o mosquito e a doença se alastrassem.
A última vez que o setor de
epidemiologia do município mediu o grau de positividade para o mosquito Aedes,
ou seja, o ritmo no qual os mosquitos estão se reproduzindo, a média do
município superou 2 vezes e meia o recomendado pelo Ministério da Saúde que é
de 1%, o município apresentava naquele momento 3,62% de positividade para o
mosquito da dengue.
Segundo a coordenadora da
vigilância epidemiológica do município, este é o número médio de todo o
território, mas que existem situações em localidades e bairros específicos em
que o índice de positividade para o mosquito Aedes Aegypti é maior, deixando a
situação ainda mais difícil de ser controlada.
A gestora da Vigilância
Epidemiológica reconhece a gravidade da situação vivenciada pelo município e se
diz preocupada, pois até a presente gestão (Kalily Lemos) na secretaria de
saúde, o setor de vigilância encontrava-se desestruturado, e que, somente
agora, está sendo possível organizar os serviços de responsabilidade daquela
coordenação.
Os colaboradores são poucos, os
insumos não chegam no tempo certo, por não estarem previstos em nenhum
orçamento e os profissionais do setor de vigilância se desdobram para enfrentar
uma realidade onde o município apresenta indicadores preocupantes no que diz
respeito à hanseníase, ao HIV, o índice de morbidade de modo geral, e a
mortalidade infantil, todos acima da média nacional, e agora as doenças transmitidas
pelo Aedes Aegypti.
O cenário traçado pelas pessoas
que trabalham na saúde local e as que exercem o controle social através do
Conselho Municipal descreve muito bem o retrato falado do problema da saúde
pública que o município vivencia, o que o tira da invisibilidade, de modo, que
não é razoável aceitar a justificativa do gestor municipal de que não combate
porque não conhece, ao passo que a Lei foi negligenciada desde 2013 no que diz
respeito ao Plano Municipal de Saúde de Cândido Sales-BA.
O mais importante neste momento é
que as pessoas sejam atendidas de maneira digna e como orienta a legislação e o
Ministério da Saúde. Ao sentir os sintomas o indivíduo deve se dirigir
imediatamente para a Unidade de Saúde mais próxima, para que o caso seja
avaliado e de modo que o SUS Municipal cumpra o seu papel, que é de garantir o
atendimento ao usuário sem interrupção e de maneira integral.
A pessoa que está com os sintomas
da dengue e demais doenças não deve ficar em casa sem antes passar pelo médico,
muito menos se automedicarem, o certo é seguir a orientação dos responsáveis
pela saúde local e se dirigir às unidades para serem diagnosticados e receberem
a medicação correta, esses vírus podem levar à morte.
Os profissionais de saúde,
principalmente, os médicos responsáveis pela avaliação clinica do paciente, eles
estão preparados para identificar os sintomas e encaminhá-lo ao melhor
procedimento, ao menos foi isso que garantiu a secretária de saúde de Cândido
Sales ao afirmar que todos os médicos foram capacitados quanto aos
procedimentos que devem ser adotados neste período crítico.
Existem casos menos graves em que
o usuário, após diagnóstico e notificação pode retornar imediatamente para a
sua casa, realizando o tratamento recomendado ali mesmo em sua residência. O
tratamento é basicamente o consumo de bastante líquido mais as medicações
recomendas pelos médicos.
No entanto, existem os quadros
mais graves, em que o usuário necessitará permanecer no hospital sob os
cuidados médicos por no mínimo 24hs, tempo necessário para observar a evolução
do quadro, ao passo que o paciente recebe o tratamento através do soro. O
profissional responsável por distinguir cada caso é o médico, que age de acordo
a conduta médica de cada um, e que deve orientar suas ações pela legislação
vigente no país.
Já que o município reconhece que
não foi capaz de controlar o mosquito e isolar os vírus transmitidos por ele,
que, inclusive, já abriu mão da estratégia de bloqueio inicial, apelando para a
solicitação do carro fumacê ao departamento regional de saúde, que até o
presente momento não disponibilizou, haja vista a utilização deste tipo de
equipamento não ser recomentado, somente em casos extremos.
A gestão municipal deve focar no
atendimento das pessoas infectadas, principalmente, as que procuram o hospital
municipal que devem ter a garantia de que serão atendidos de maneira humanizada
e sem interrupção. De modo algum, podemos aceitar que faltem os insumos
necessários para a atuação do setor de saúde do município neste momento critico.
Esperamos que o hospital, que
funciona de maneira precária, e que já deixou faltar até mesmo soro fisiológico
e materiais do pronto-socorro ao usuário, neste momento, esteja preparado para
recepcionar o resultado da falta de planejamento dos serviços de saúde no
município de Cândido Sales-BA.
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