quinta-feira, 24 de março de 2016

DENGUE, INIMIGO INVISÍVEL?

Na última terça-feira o prefeito de Cândido Sales-BA reconhecendo o grave problema de saúde pública que o município vivencia com as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti, afirmou que se tratava de um inimigo invisível, pois até aquele momento o setor de saúde não teria confirmado nenhum dos mais de 140 casos notificados até 05/03/2016.

Essa invisibilidade relatada pelo prefeito que é em decorrência da falta de planejamento do setor de saúde do município, que desde 2013 vem trabalhando sem o Plano Municipal de Saúde não deve impedir que as pessoas que apresentem sintomas das doenças transmitidas pelo Aedes recebam o diagnóstico e o tratamento como orienta o Ministério da Saúde.

O fato de a vigilância epidemiológica do município não ter confirmado os casos através do exame de sangue na 11ª semana epidemiológica, evidencia um despreparo do setor de saúde que não é compatível com o serviço público que deveria ser devidamente planejado e conduzido através dos instrumentos de gestão do SUS.

Essa falta de planejamento adequado do setor de saúde desde o primeiro ano de gestão do prefeito atual, como orienta a Lei 8.080 de 1990, impede que o município faça o enfrentamento do surto epidemiológico com eficiência neste momento, pois não viabilizaram as pactuações e os recursos que poderiam está sendo utilizados neste momento crítico.

É provável que se a Lei fosse cumprida no que diz respeito ao SUS Municipal de nossa cidade, o município não estaria passando por esta situação crítica de saúde pública.

O problema se torna invisível pelo fato das autoridades locais de saúde não conhecerem a dimensão e a potencialidade do surto de dengue no território, o que coloca toda a população em alerta total, pois todos correm risco de serem infectados, e nem ao menos têm a garantia de que o problema está sendo enfrentado de maneira racional pelo poder público local.

O mosquito Aedes Aegypti não nasce com os vírus: dengue, zika e chinkungunya, ele transporta o vírus da pessoa infectada para a não infectada ao se alimentar do sangue para garantir o seu ciclo de vida. Neste caso, o ideal seria isolar ao máximo as pessoas contaminadas e atacar os vetores, eliminando os mosquitos adultos e aplicando larvicida onde for necessário, o município tentou fazer isso ao realizar o BLOQUEIO, no entanto, por algum motivo, a estratégia utilizada no plano de contingência da dengue, não impediu que o mosquito e a doença se alastrassem.

A última vez que o setor de epidemiologia do município mediu o grau de positividade para o mosquito Aedes, ou seja, o ritmo no qual os mosquitos estão se reproduzindo, a média do município superou 2 vezes e meia o recomendado pelo Ministério da Saúde que é de 1%, o município apresentava naquele momento 3,62% de positividade para o mosquito da dengue.

Segundo a coordenadora da vigilância epidemiológica do município, este é o número médio de todo o território, mas que existem situações em localidades e bairros específicos em que o índice de positividade para o mosquito Aedes Aegypti é maior, deixando a situação ainda mais difícil de ser controlada.

A gestora da Vigilância Epidemiológica reconhece a gravidade da situação vivenciada pelo município e se diz preocupada, pois até a presente gestão (Kalily Lemos) na secretaria de saúde, o setor de vigilância encontrava-se desestruturado, e que, somente agora, está sendo possível organizar os serviços de responsabilidade daquela coordenação.

Os colaboradores são poucos, os insumos não chegam no tempo certo, por não estarem previstos em nenhum orçamento e os profissionais do setor de vigilância se desdobram para enfrentar uma realidade onde o município apresenta indicadores preocupantes no que diz respeito à hanseníase, ao HIV, o índice de morbidade de modo geral, e a mortalidade infantil, todos acima da média nacional, e agora as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti.

O cenário traçado pelas pessoas que trabalham na saúde local e as que exercem o controle social através do Conselho Municipal descreve muito bem o retrato falado do problema da saúde pública que o município vivencia, o que o tira da invisibilidade, de modo, que não é razoável aceitar a justificativa do gestor municipal de que não combate porque não conhece, ao passo que a Lei foi negligenciada desde 2013 no que diz respeito ao Plano Municipal de Saúde de Cândido Sales-BA.

O mais importante neste momento é que as pessoas sejam atendidas de maneira digna e como orienta a legislação e o Ministério da Saúde. Ao sentir os sintomas o indivíduo deve se dirigir imediatamente para a Unidade de Saúde mais próxima, para que o caso seja avaliado e de modo que o SUS Municipal cumpra o seu papel, que é de garantir o atendimento ao usuário sem interrupção e de maneira integral.

A pessoa que está com os sintomas da dengue e demais doenças não deve ficar em casa sem antes passar pelo médico, muito menos se automedicarem, o certo é seguir a orientação dos responsáveis pela saúde local e se dirigir às unidades para serem diagnosticados e receberem a medicação correta, esses vírus podem levar à morte.

Os profissionais de saúde, principalmente, os médicos responsáveis pela avaliação clinica do paciente, eles estão preparados para identificar os sintomas e encaminhá-lo ao melhor procedimento, ao menos foi isso que garantiu a secretária de saúde de Cândido Sales ao afirmar que todos os médicos foram capacitados quanto aos procedimentos que devem ser adotados neste período crítico.

Existem casos menos graves em que o usuário, após diagnóstico e notificação pode retornar imediatamente para a sua casa, realizando o tratamento recomendado ali mesmo em sua residência. O tratamento é basicamente o consumo de bastante líquido mais as medicações recomendas pelos médicos.

No entanto, existem os quadros mais graves, em que o usuário necessitará permanecer no hospital sob os cuidados médicos por no mínimo 24hs, tempo necessário para observar a evolução do quadro, ao passo que o paciente recebe o tratamento através do soro. O profissional responsável por distinguir cada caso é o médico, que age de acordo a conduta médica de cada um, e que deve orientar suas ações pela legislação vigente no país.

Já que o município reconhece que não foi capaz de controlar o mosquito e isolar os vírus transmitidos por ele, que, inclusive, já abriu mão da estratégia de bloqueio inicial, apelando para a solicitação do carro fumacê ao departamento regional de saúde, que até o presente momento não disponibilizou, haja vista a utilização deste tipo de equipamento não ser recomentado, somente em casos extremos.

A gestão municipal deve focar no atendimento das pessoas infectadas, principalmente, as que procuram o hospital municipal que devem ter a garantia de que serão atendidos de maneira humanizada e sem interrupção. De modo algum, podemos aceitar que faltem os insumos necessários para a atuação do setor de saúde do município neste momento critico.

Esperamos que o hospital, que funciona de maneira precária, e que já deixou faltar até mesmo soro fisiológico e materiais do pronto-socorro ao usuário, neste momento, esteja preparado para recepcionar o resultado da falta de planejamento dos serviços de saúde no município de Cândido Sales-BA.

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