O Brasil possui políticas que
funcionam como demanda estruturada para agricultura familiar, inclusive, existe
espaço significativo a ser explorado pelos pequenos agricultores, no entanto, para o território municipal aproveitar esses
instrumentos é necessário que haja organização da parte dos produtores e do
poder público local.
Se levar em conta o perfil
socioeconômico dos municípios pobres do país, onde a economia é sustentada pela
agricultura de subsistência, a demanda estruturada assegurada pela estratégia
de segurança alimentar do Brasil trouxe aos pequenos produtores a resposta a um
dos seus principais desafios, o mercado.
As fontes de demanda representadas
pelo Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, se quer foram identificadas como alternativas
viáveis para os pequenos produtores rurais de municípios brasileiros como
Cândido Sales na Bahia, por exemplo, onde segundo o IBGE 2010, 50% da população
reside no meio rural.
Para se ter uma ideia do
potencial da demanda estruturada do Brasil, o PAA, adquiriu mais de 3 milhões
de toneladas de alimentos em 10 anos de mais de 200 mil agricultores familiares,
essa política pública foi criada em 2 Julho de 2003 através da Lei 10.656, e o
seu orçamento em 2013 foi de R$ 1,4 bilhão (CONAB), o que corresponde a 0,0004 por
cento do PIB brasileiro.
O PNAE é outro importante
instrumento que compõe a estratégia de segurança alimentar e nutricional do
Brasil, focando na alimentação dos estudantes das escolas públicas, o programa
alimenta cerca de 45 milhões de alunos em todo o país e o seu orçamento anual
foi de 3,5 bilhões em 2013.
Uma característica importante do
Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, é que a partir de 2009, trinta
por cento dos recursos do programa passaram a ser assegurados para a compra de
alimentos do pequeno produtor local, com o potencial de aumentar
expressivamente a renda dos agricultores familiares.
Estudos apontam que quando a
legislação for cumprida integralmente, o orçamento mínimo para os produtores e
pequenos agricultores será de cerca de R$ 1 bilhão. Desse modo, graças ao
direito à alimentação no Brasil, a agricultura familiar pode ter esperança de
dias melhores.
Após a redemocratização do país,
o Brasil passou a construir a definitivamente a sua estratégia de segurança
alimentar, fortalecendo instituições existentes e criando outras que se
tornaram necessárias, foi neste contexto que surgiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar – CONSEA, que se reúne a cada dois meses e tem a sua
composição formada de 1/3 de representantes de governo e 2/3 de representantes
da sociedade civil.
O conselho nacional de segurança
alimentar passou a ser importante protagonista no fortalecimento das políticas
de combate à fome e a miséria no Brasil, que até a década de 90 do século XX
eram tidas como problemas crônicos da sociedade brasileira.
Numa estratégia que une políticas
de segurança alimentar e nutricional às políticas de saúde, educação e redução
da pobreza, o Brasil constrói uma demanda estruturada aos seus agricultores
familiares, reconhecida por instituições internacionais como a Fundação Bill e Melinda Gates (BMGF).
Essa demanda estruturada que assegura
previsibilidade de mercado alinhada à política nacional de acesso à água podem impactar
fortemente nas economias de municípios pobres do Brasil, no que se refere ao
fomento da agricultura familiar.
Além disso, esse ambiente
institucional favorece a organização coletiva dos pequenos produtores, sendo as
cooperativas e associações determinantes para o fortalecimento dos agricultores
familiares no contexto local, passando a ter mais força através da organização
e do trabalho em grupo.
São necessários incentivos da
parte do poder público local, no sentido de colaborar com a organização social
dos agricultores do município e atendê-los em necessidades essenciais como
educação e assistência técnica para a melhoria do seu sistema de produção.
Parte da dificuldade tida anos
atrás pelos agricultores familiares do Brasil no que se refere a mercado foi
superada com a criação dos programas PAA e PNAE, no entanto, nem todos os municípios
conseguem reunir as condições necessárias de inclusão dos seus agricultores
neste processo de desenvolvimento.
Para que o município aproveite
bem demandas estruturadas como a apresentada pelo PAA, por exemplo, é
necessário que exista uma infra-estrutura adequada, onde o pequeno agricultor seja
atendido com assistência técnica e extensão rural, e que tenha acesso a terra,
mercado e a insumos de produção de maneira equitativa.
Até chegar ao nível institucional
em que se encontra, o Brasil passou por uma série de avanços em matéria de
legislação, principalmente, a partir da Constituição de 1988, da criação da
CONAB em 1990 à garantia de acesso ao mercado e garantia de preços em 2003 ao
pequeno agricultor, muitas barreiras tiveram de ser superadas.
No PAA a modalidade de compras
diretas para doações simultâneas é a mais utilizada pelos agricultores familiar
segundo a Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, a venda máxima por Declaração de Aptidão ao PRONAF – DAP é de R$
24.000,00 anuais. O PAA incentiva a
produção agroecológica pagando 30% a mais por alimentos provenientes deste
sistema de produção. ‘
Já o Programa Nacional de Alimentação
Escolar – PNAE, que orienta que 30% dos recursos devem ser reservados para
adquirir alimentos da agricultura familiar local, tem na figura do nutricionista
escolar peça fundamental, pois o mesmo que é o responsável pelo cardápio
escolar, devendo adequá-lo a aspectos culturais e nutricionais da região.
O PNAE também promove o
desenvolvimento local quando complementa a renda dos pequenos agricultores,
dando a este previsibilidade de demanda e estimulando a melhorias dos padrões
de qualidade da produção familiar, ajudando a reduzir as incertezas e riscos da
atividade.
Assim como outras políticas
nacionais que regulamentam direitos constitucionais o PNAE é fortemente
influenciado pela descentralização da Constituição de 1988, cabendo aos agentes
locais construírem a proposta de desenvolvimento que mais se adéque ao perfil
do município e às necessidades dos seus agricultores familiares.
O PNAE é controlado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE que também é responsável por
regular e fiscalizar o programa, os estados e municípios devem enviar
anualmente o relatório das despesas com a merenda escolar ao fundo.
Outro importante ator que deve
ser considerado na estratégia do Brasil é o Conselho de Alimentação Escolar,
que é responsável por supervisionar e monitorar as compras de alimentos e o
trabalho do nutricionista escolar que deve obedecer ao que estabelece a Lei.11.947 no que se refere à exigência legal onde 30% do alimento adquirido para a
merenda escolar das escolas públicas devem ser adquiridos dos agricultores
familiares.
O gestor municipal deve ser capaz
de liderar um processo de desenvolvimento local e no que refere a
desenvolvimento econômico através da venda de produtos da agricultura familiar
para merenda escolar, a administração municipal deve compreender as regras e
procedimentos do PNAE para compra de pequenos agricultores.
O poder público deve preparar o
território municipal para inserir-se neste contexto de demanda estruturada de
modo a aproveitar o potencial da política gerando renda e agregando valor à
produção familiar local, inclusive, nas compras do PNAE o processo de licitação
pública foi abolido, desburocratizando a compra direta do pequeno produtor.
No caso da merenda escolar, o
pequeno produtor pode vender até R$ 20.000,00 anualmente, sendo que os preços
dos produtos oferecidos pela agricultura familiar devem obedecer ao mercado
local, além disso, o produtor deve incluir no preço final o custo do transporte
do alimento até a escola.
Para converter as compras
institucionais em estratégia de desenvolvimento local, existem passos a serem
seguidos, sendo necessário o gestor identificar os gargalos que impedem o
progresso da agricultura familiar e que dificultam um fornecimento regular de
produtos desta modalidade da agricultura.
Dentre os desafios dos municípios
rurais do Brasil para incorporar os agricultores à cadeia de abastecimento
proporcionada pelas políticas de segurança alimentar, o transporte e a
infra-estrutura são os mais notórios, principalmente, nos municípios pobres do
interior do país. 1 a 5% do orçamento do PAA é destinado para investimentos em
transporte.
Outro desafio do município é
vincular a produção familiar à demanda local, incentivando os produtores a se
organizarem e trabalharem com os funcionários do governo local em projetos de
compras institucionais e fortalecimento dos sistemas produtivos.
Além de melhorar a capacidade
produtiva e o acesso a mercados pelos agricultores locais o poder público local
deve enfrentar o baixo nível de escolarização dos produtores familiares,
melhorando a capacidade destes em cumprir as normas para fornecer ao PNAE, por exemplo.
Segundo as informações da CONAB
os recursos do PAA Nordeste não estão bem distribuídos regionalmente e ainda
existe muito espaço para o crescimento e aperfeiçoamento da agricultura
familiar na região, tendo as compras institucionais como pilar de inclusão
produtiva.
Para aproveitar bem as
possibilidades da demanda estruturada existente no Brasil dos produtos da
agricultura familiar, o município deve ser capaz de diagnosticar a situação
desta modalidade de produção em seu território, reconhecer as potencialidades
para depois projetar o valor que poderia ser gasto com a aquisição de alimentos
dos produtores locais.
Após identificar o perfil da
agricultura familiar local, o poder público deve estruturar os arranjos
produtivos existentes, fomentando as atividades dos pequenos produtores. Além
disso, é necessário o estimulo à diversificação da produção e melhoria da
qualidade dos produtos oferecidos.
O poder público, após conhecer os
elementos que compõe a agricultura familiar do município, deve desenvolver
plano e ações que visem à capacitação do produtor através da assistência
técnica e extensão rural, tendo o cooperativismo como resposta às barreiras
encontradas pelo produtor no âmbito individual.
Este aspecto de demanda
estruturada é que anima os projetos mais otimistas que em cenários futuros
acreditam em uma sociedade que utilizará de maneira sustentável o potencial da
agricultura familiar, praticando a economia verde no âmbito do desenvolvimento
rural sustentável. O governo municipal deve ser capaz de assegurar a execução
de suas potencialidades.
FONTE CONSULTADA:
DEMANDA ESTRUTURADA E PEQUENOS AGRICULTORES NO BRASIL - PAA e PNAE
http://www.ipc-undp.org/
FONTE CONSULTADA:
DEMANDA ESTRUTURADA E PEQUENOS AGRICULTORES NO BRASIL - PAA e PNAE
http://www.ipc-undp.org/
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