Conceito fortemente discutido na
Rio+20, evento das Nações Unidas que ocorreu em 2012 no Rio de Janeiro – RJ, a
economia verde abrange a todas as áreas do desenvolvimento humano, tendo como
característica essencial a preservação do meio ambiente e o fortalecimento das
populações humanas vulneráveis.
O município de Cândido Sales, de
base econômica eminentemente rural, pode encontrar no conceito de economia
verde aplicado na agricultura familiar, uma alternativa para o desenvolvimento
da cidade.
Há dezenas de anos a comunidade Candido-salense
sobrevive consorciando a agricultura de subsistência ao seu hábito de vida e à
economia da família, de modo que, mesmo antes dos subsídios do governo às
pessoas pobres do meio rural, estes encontravam dignidade humana no exercício
da agricultura familiar.
Existem relatos de famílias de
Cândido Sales, que remanescentes do meio rural, conseguiram alcançar patamares
sociais e de educação através da economia de subsistência, pessoas que a partir
do cultivo de mandioca, por exemplo, conseguiram adquirir bens e imóveis, de
modo que a eficácia da agricultura familiar como modalidade de desenvolvimento
já é mais que comprovada.
Essa potencialidade, que na
verdade, é uma característica sociocultural da região, ainda persiste, embora,
sem o devido reconhecimento da sociedade e dos governantes. Ainda hoje, por
exemplo, 14.032 pessoas do município estão na Zona Rural, 50% da população (IBGE/2010).
Com a ampliação de serviços
públicos de acesso a água, eletricidade e educação em todo Território Nacional,
ocorrido principalmente na última década, os Candido-salenses encontraram ainda
mais razões para permanecerem-se no campo.
Hoje apesar de todas as
deficiências, principalmente, da parte do poder público, especula-se que os
moradores do meio rural do município de Cândido Sales, vivem melhor que a
maioria dos da sede, isso por uma simples questão: o morador do meio rural tem
mais instrumentos para ser resiliente e sobreviver.
Embora essa discussão sobre
agricultura familiar seja da ordem do dia, com implicações pára o futuro do
planeta, aqui no nordeste, mais precisamente na região semiárida os brasileiros
já sabem há séculos a importância de subsistir com a auto-gestão dos produtos
gerados pelo sistema familiar de produção.
Apesar de avanços na infra-estrutura
proporcionados pelo governo federal (água, luz e máquinas), o município de
Cândido Sales-BA parece está na contra-mão do desenvolvimento, um exemplo é o
que o ocorreu com a principal cultura do município que foi perdendo o seu
prestígio junto as autoridades competentes nos últimos anos.
Município que já foi considerado o
maior produtor de mandioca (Manihot esculenta) do Brasil até pouco tempo necessitava trazer os derivados da
mandioca de outros municípios do país, o que atesta a incompetência dos
governos dos últimos 15 anos no sentido de identificar e valorizar as
potencialidades do município.
A história recente da cultura da
mandioca em nosso município é bastante triste, pois envolve ingratidão, cobiça
e imediatismo. Mesmo ciente da força da “cultura mãe” os políticos e alguns “empresários”
não hesitaram em ignorar a mandiocultura em Cândido Sales-BA. Saímos de uma
situação em que éramos notícia na imprensa nacional por realizar feiras,
encontros e seminários sobre agricultura familiar, para se tornar fonte de notícias
calamitosas.
O imediatismo e o ganho no
curtíssimo prazo apequenaram a visão de parte dos nossos agricultores, e estes
passaram a investir tempo e esforço em outras monoculturas, que não tinham
efetividade comprovada no Território Municipal.
Foi o que aconteceu com a cultura
do eucalipto, que em alguns casos chegou a substituir áreas tradicionalmente
reservadas para o cultivo da mandioca. Todo esse desperdício de tempo e
dinheiro que ocorreu, quando os agricultores investiram às segas no eucalipto,
na expectativa de obter altos ganhos com a cultura, se fosse investido no
fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca, a realidade do município seria
outra.
Essa alteração na lógica da
agricultura local, onde a cultura da mandioca era tida como principal, sendo orbitada
por outras culturas como o cultivo de milho e feijão mais a criação de gado e
pequenos animais, impactou fortemente na vida das famílias candido-salenses que
vivem no campo, inclusive, muitas delas deixaram o meio rural por falta de
incentivo.
No caso da mandiocultura, os
atravessadores tiveram papel fundamental em prejudicar o seu desenvolvimento em
Cândido Sales-BA, pois os mesmos que compravam a farinha de mandioca, por
exemplo, a preços muito abaixo do mercado dos pequenos agricultores e revendiam
com uma extraordinária margem de lucro, foram os que transferiam o foco e o
investimento para a cultura do eucalipto.
Apesar de toda a potencialidade
do município a falta de planejamento, principalmente, da parte do poder público
local impede que o desenvolvimento através da agricultura familiar ocorra em
nossa cidade, pois seriam necessários investimentos em infra-estrutura e
educação, o que não ocorreu nos últimos anos.
O incentivo dos governantes é uma
obrigação, principalmente, em realidades onde o município carece de fontes agregadoras
em suas economias, cidades que não possuem receita própria, tem a obrigação de
incentivar o desenvolvimento rural sustentável de modo a fortalecer os seus
arranjos produtivos locais.
O governo federal do Brasil
desenvolve políticas de incentivo à agricultura familiar através das compras
governamentais por meio de mecanismos como o Programa Nacional de Alimentação
Escolar – PNAE e o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, no caso da merenda
escolar das escolas públicas o programa estabelece que no mínimo 30% dos
alimentos sejam adquiridos da agricultura familiar.
As potencialidades do município
no que se refere à agricultura são evidentes, e além da mandioca, rica fonte de
carboidrato, no município se adapta uma série de culturas, que surgem até mesmo
espontaneamente como é o caso da manga e da acerola.
O cultivo de melancia também já
obteve bons resultados em Cândido Sales-Ba e existem experiências positivas com
a cultura do maracujá, mas o que impressiona mesmo é a adaptabilidade da
acerola no solo candido-salense.
Se todos esses potenciais fossem
estimulados, sistemas de produção fossem desenvolvidos, a maior parte da renda
municipal ia vir do campo e oportunidades seriam criadas. Por exemplo, atualmente
não existissem produtores organizados para fornecer alimento ao município
através do PNAE e PAA.
As potencialidades do
desenvolvimento rural sustentável do município de Cândido Sales-BA, são inúmeras,
no entanto, a desarticulação dos produtores rurais e a ausência de lideranças
políticas que tratem o assunto com seriedade, faz com que as possibilidades, embora latentes, permaneçam paralisadas.
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